Sem burocracia, medida permitirá que estudante de uma instituição faça parte do curso em outra a partir de 2009
As universidades federais brasileiras devem ter em 2009 um sistema que permite, sem burocracia, que o estudante de uma delas curse parte da graduação em outra instituição. Os intercâmbios entre federais também poderão ser feitos por professores e serão regulados pelo futuro Sistema Brasileiro de Transferência de Crédito, que será criado pelo Ministério da Educação (MEC). O programa é inspirado no Acordo de Bolonha, que existe na Europa desde 1998 e permite a mobilidade de milhares de estudantes entre universidades de vários países.
Segundo o secretário de Ensino Superior do MEC, Ronaldo Mota, há a intenção também de permitir o intercâmbio de alunos com outras universidades públicas do Brasil e do mundo e até privadas. “As instituições não precisam ter currículos homogêneos, mas devem conversar entre elas para que os créditos sejam validados rapidamente”, diz Mota. Hoje, segundo o secretário e dirigentes de universidades federais, o processo é lento, exige avaliação por comissões e nem sempre é autorizado. O novo projeto permitirá intercâmbios de seis meses a um ano.
“Um curso de cálculo, por exemplo, é semelhante em qualquer federal”, diz a pró-reitora de Graduação da Universidade Federal do ABC (UFABC), Itana Stiubiener. A instituição, criada há dois anos, é a mais preparada do sistema federal para a mobilidade de estudantes. Os alunos cursam um ciclo básico nos primeiros anos e se formam em bacharéis de Ciência e Tecnologia; só depois escolhem uma especialidade, como Engenharia. Além disso, um terço das disciplinas que precisam ser cursadas é de livre escolha e pode ser feito em qualquer instituição considerada de excelência. “Acreditamos que é importante ter uma formação em que o aluno escolhe parte do que quer aprender. Se ele gosta de um curso na USP, por exemplo, pode fazer lá”, completa a pró-reitora. Ela acredita que o sistema vai ajudar no modelo da UFABC.
As universidades federais e o MEC têm se reunido desde o fim do ano passado para discutir como funcionará o sistema. Ele faz parte do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) do MEC, que teve a adesão de todas as 53 instituições e prevê o crescimento em 71% no número de vagas até 2012. O sistema de transferência de créditos também funcionará da mesma maneira, com adesão das instituições.
“É preciso mudar conceitos. O importante não é ler a página 37 de um mesmo livro para validar o crédito feito em outra universidade”, diz Leonardo Lazart, diretor de Tecnologia e Apoio à Aprendizagem da Universidade de Brasília (UnB). Outra instituição disposta a aderir ao novo sistema é a federal de Goiás (UFGO). Para o pró-reitor de Administração da instituição, Orlando Valle do Amaral, a mobilidade de estudantes é essencial para a formação. “É preciso experimentar outra realidade, conhecer a diversidade, ouvir outros professores”, diz.
Ele ainda acredita que o sistema pode ajudar as recém-inauguradas universidades federais. O governo Lula criou quatro instituições e dezenas de câmpus de outras já existentes. Para Amaral, professores mais experientes de universidades antigas poderão dar aulas nas mais novas. “Os docentes também poderão aproveitar laboratórios mais equipados de uma ou outra instituição”, diz.
A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) aprova o novo sistema, apesar de informar que já há alguns convênios entre instituições para intercâmbio. Malvina Tuttman, uma das diretoras da entidade, lembra que é preciso ter financiamento para que alunos mais pobres também possam usufruir do programa e ter condições de morar em outra cidade.
O Sistema
53 universidades federais em todas as regiões do País
589.821 alunos atualmente estudam nessas instituições
133.941 vagas estão disponíveis em vestibulares
32.931 delas estão em cursos noturnos
71% é quanto vai crescer até 2012 o número total de vagas
Publicado originalmente Sexta-feira, 08 de fevereiro de 2008, pelo jornal Estado de S.Paulo