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Tesouro da juventude

Correio Braziliense (DF) – 26/06 - políticas sociais

Estudo do Banco Mundial estima que o país perde R$ 300 bilhões, anualmente, por causa da exclusão de jovens do mercado de trabalho e das salas de aula. Taxa de analfabetismo é maior que a de nações vizinhas

Se todos os jovens brasileiros estudassem e fossem incorporados ao mercado de trabalho, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro poderia aumentar R$ 300 bilhões, de acordo com o estudo Jovens em situação de risco no Brasil, divulgado ontem pelo Banco Mundial (Bird). Do total de 50,5 milhões de jovens de 15 a 29 anos de idade, 9,5 milhões estão fora da escola e do mercado de trabalho. E 4,5 milhões não fizeram nem mesmo o ensino fundamental. Todos estão em situação de risco.

O relatório mostra dados preocupantes: os jovens violentos custam R$ 33 milhões para a economia brasileira e R$ 5 bilhões para suas famílias. O abandono da escola, os leva a perder R$ 297 bilhões em salários ao longo de suas vidas.

O estudo, que analisa também diversas outras questões, como consumo de drogas, tem o objetivo de estimular o governo a investir em políticas para a Juventude. Atualmente, a União investe por ano R$ 1 bilhão em políticas para os jovens em situação de risco. “Algumas idéias o governo já vem fazendo”, disse Wendy Cunningham, coordenadora do estudo, que traça um quadro desanimador. Os jovens de 15 a 24 anos respondem por 47% do desemprego e por 40% dos homicídios no país. Para o Banco Mundial, jovem em situação de risco é o que assume comportamentos danosos para si mesmo e para a sociedade, com o abandono dos estudos, ociosidade, uso de drogas, comportamento violento, iniciação sexual precoce e práticas sexuais arriscadas. São normalmente de famílias mais pobres.

Na área educacional, o estudo ressalta que o Brasil está em penúltimo lugar entre os 41 países que participam do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes. Só ganhou do Peru. A taxa de analfabetismo entre os jovens do sexo masculino é o dobro da registrada em outros países da América Latina. Além disso, um em cada quatro brasileiros de 15 a 19 anos de idade concilia o estudo com o trabalho, uma proporção três a cinco vezes superior à de outros países. Mais de 60% dos jovens trabalham sem carteira assinada ou nem recebem remuneração pelo trabalho. De acordo com o estudo, 55% dos trabalhadores sem remuneração estão na faixa de 10 a 14 anos de idade.

Assassinatos

O estudo chama a atenção também para o problema dos homicídios, que superam a taxa de 100 por 100 mil habitantes, considerando a faixa etária de 15 a 29 anos. Na América Latina, somente Colômbia e El Salvador, que têm sérios problemas de violência institucionalizada, superam a taxa brasileira de homicídios.

A situação dos jovens varia de acordo com regiões e cidades brasileiras. O estado de Santa Catarina e o Distrito Federal, segundo o Bird, “estão no topo do índice de bem-estar juvenil”, devido ao bom desempenho escolar dos jovens e à forte conexão com instituições locais. Pernambuco e Alagoas estão em último lugar.

Segundo o estudo, jovens com comportamento de risco tendem a ter baixa auto-estima, baixos níveis de espiritualidade, sofrem abusos físicos e sexuais, vivem na pobreza e não confiam nas instituições. O estudo ressalta a importância de políticas para a Juventude em situação de risco para o bem-estar do próprio jovem e também para a sociedade, porque o jovem em situação de risco, além de não produzir, gera despesa para o setor público. O estudo estima que os benefícios perdidos variam entre 12% e 21% do PIB.

No Brasil, há “uma imensa quantidade de programas para jovens”, mas ninguém sabe se funcionam. São 49 programas em 16 ministérios e outros tantos nos estados e municípios. Não são suficientes e “parte da Juventude brasileira encontra-se num caminho perigoso”. “Para desenhar uma estratégia séria de investimento, é importante saber quais programas funcionam com mais eficácia”, aponta o relatório.

Atualmente, 70% dos gastos sociais do Brasil são feitos com a população com mais de 61 anos de idade. Os jovens ficam com apenas 6% desses recursos, percentual que cai a quase zero se forem descontados os investimentos com o ensino universitário. “Essa estratégia equivocada de investimento tem sérias implicações para o crescimento econômico, social, cultural e político do Brasil”, afirma.

O secretário Nacional da Juventude, Beto Cury, que também participou da divulgação, diz que a política para jovens só foi implantada no Brasil em 2005, com a criação da secretaria e do Conselho da Juventude. Segundo Cury, nos próximos dias o presidente Lula vai anunciar uma ação em benefício dos jovens. Ele ressaltou que o investimento real é bem mais alto, porque os jovens são beneficiados também por outros programas de governo, como o Programa Universidade para Todos (ProUni), Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e Programa de Desenvolvimento da Educação (PDE), além de projetos do Ministério da Saúde para evitar as doenças sexualmente transmissíveis e de prevenção da gravidez.

RADIOGRAFIA

  • O Brasil ficou em 40º lugar entre os 41 países que aplicam o teste do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes
  • 4,5 milhões de jovens entre 15 e 29 anos não têm o ensino fundamental
  • A taxa de analfabetismo entre os jovens do sexo masculino é o dobro da registrada em outros países da América Latina
  • A chance de desemprego entre jovens é 3,7 vezes superior à dos adultos
  • Taxa de homicídios entre jovens brasileiros de 15 a 29 anos supera a 100 por 100 mil habitantes. Brasil só perde para Colômbia e El Salvador

Emprego

Fatores que dificultam conseguir emprego: Ser afro-brasileiro; Não ter estudo; Ser pai ou mãe; Estar grávida Ter deficiência física; Ser homossexual.

Fatores favoráveis à obtenção de emprego:  Ser solteiro; Ser branco; Ser heterossexual; Ser alfabetizado ;Ter educação completa ;Ter curso profissional completo; Saber trabalhar com computador .

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Dica do Observatório Jovem:

Acesse o relatório do Banco Mundial