Preocupação para os jovens, para os pais e para o governo. A gravidez na adolescência é um problema que está longe de ser controlado pelas políticas públicas. O quadro assusta porque, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), enquanto a taxa de fecundidade da população brasileira diminui, o número de adolescentes com filhos aumenta
Em seis anos, o Brasil conseguiu reduzir a taxa de 2,4 para 2 filhos por mulher, em média. No DF, é menor ainda: 1,9 filho por mulher. Porém, nos últimos dez anos, houve um aumento de 6,9% para 7,6% na quantidade de adolescentes que tiveram filhos entre 15 e 17 anos.
De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), cerca de 10% das garotas no Distrito Federal com idade entre 15 e 19 anos já ficaram grávidas pelo menos uma vez. Os problemas não se limitam a uma questão de saúde. A gravidez é o principal motivo da evasão escolar feminina. Pesquisa da Organização das Nações Unidas (ONU) revela que 56% dos jovens, entre 15 e 17 anos, que abandonaram a escola são meninas.
"Aos poucos, percebemos que o aumento da escolaridade está contribuindo para uma maior conscientização dos jovens, que percebem que a vida com filhos se torna mais difícil tanto para os estudos quanto para a inserção no mercado de trabalho", observa a supervisora de Divulgação de Informações do IBGE-DF, Sônia Baena.
Segundo o Ministério da Saúde, hoje, no Brasil, uma em cada quatro mulheres que dão à luz tem menos de 19 anos. Para o presidente da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Nilson de Melo, a desproporcionalidade entre a taxa de fecundidade no País e os índices de gravidez na adolescência pode ser explicada pelo aumento nas cirurgias de laqueadura ou ligadura de trompas, que impedem a mulher de ter novas gestações.
Planejamento familiar
Ele atenta para outro dado alarmante: 40% das adolescentes brasileiras que têm o primeiro filho voltam a engravidar em até três anos. Neste grupo, está a dona de casa, Tatiana da Silva do Lopes, 20 anos, moradora de Itapoã, região do DF com maior incidência de casos de adolescentes com filhos. Ela teve o primeiro bebê aos 17 anos e está grávida de dois meses de outro companheiro. Ela lembra o susto que teve na primeira gestação.
"Fiquei grávida e foi uma grande surpresa porque namorava há pouco tempo com um rapaz e nem pensava em ter filhos. Do relacionamento amoroso não sobrou nada. Ele demorou para assumir a paternidade e, até hoje, paga a pensão atrasada", lamenta a jovem, que abandonou o sonho de ser professora para cuidar da filha. Ela conta que trabalhou como doméstica até os nove meses de gravidez.
Números alarmantes
Dados do Ministério da Saúde apontam que a cada grupo de mil garotas, de dez a 19 anos, cerca de cem já tiveram filhos, ou seja, 10%. A taxa é superior à média mundial e maior do que a de países como Sudão e Índia. Para alertar a população sobre os riscos e problemas da gestação entre os jovens, cinco entidades ligadas à área de saúde criaram o Dia Mundial da Prevenção da Gravidez na Adolescência. A data é comemorada na próxima terça-feira em mais de 70 países da Europa, Ásia e América Latina.
O tema deste ano é Sua vida, sua decisão e o site da campanha (www.vivasuavida.com.br) traz dicas e orientações aos jovens. Os voluntários da iniciativa vão percorrer capitais e distribuir folhetos informativos. Segundo os organizadores da campanha, 220 mil mulheres ficam grávidas por ano em todo o mundo sem terem planejado. Entre elas está a estudante e dona de casa A.S.N, 16 anos, que engravidou aos 15 de um namorado com quem estava há nove meses.
"Nada tinha sido planejado, foi um grande susto", relata a jovem, assumindo que não houve precaução. "Nós, realmente, não nos prevenimos. Não usamos camisinha e eu não tomava remédio. Ainda continuo estudando, mas não foi nada fácil ir à escola grávida. Além do preconceito entre os colegas tinha que faltar muito", recorda.
A jovem revela que nunca trabalhou porque pretende terminar os estudos e cursar a faculdade. Ela está atrasada dois anos na escola, mas não desanima e quer recuperar o tempo perdido.
"Ainda bem que posso contar com a minha irmã para ficar com meu filho para que eu possa estudar, e meu marido trabalhar", observa.