Os conflitos interpessoais nas escolas são praticamente inevitáveis, mas podem ser tratados de maneira a não se transformar em violência. Sensibilizar pais e educadores para identificar diferentes formas de violência e apontar formas de prevenção são os principais objetivos do livro Violência na escola – Um guia para pais e professores, de Caren Ruotti, Renato Alves e Viviane de Oliveira Cubas
Os três autores são pesquisadores do Centro de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo, um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepid) da FAPESP, também conhecido como Núcleo de Estudos da Violência (NEV).
De acordo com Caren, a obra nasceu de um programa de mediação de conflitos realizado pelo NEV em uma comunidade carente de São Paulo. Quando o programa foi levado para a escola do bairro, os pesquisadores perceberam que a instituição tinha um papel decisivo na construção social de um ambiente de violência.
“A partir daí, pesquisamos diretamente nas escolas, por dois anos, para saber como esse problema ocorre na cidade de São Paulo. O livro une uma abordagem teórica a esse trabalho de campo e a levantamentos mais amplos sobre o assunto”, disse Caren à Agência FAPESP.
A pesquisadora afirma que o livro procura desmontar a visão estereotipada relacionada à violência escolar. “Quando se fala de violência na escola, imaginam-se logo situações extremas relacionadas a homicídios, tiros e tráfico de drogas. Mas isso, embora seja mais impactante, ocorre em poucas localidades. E a escola pode fazer pouco contra esse tipo de problema”, destacou.
Por outro lado, segundo ela, escola e comunidade podem dar uma grande contribuição no combate à violência cotidiana. “Essa violência aparentemente leve, das brincadeiras de mau gosto, das agressões verbais, do clima de desordem e desrespeito, não pode ser negligenciada. É nessa esfera que a escola pode fazer a prevenção e evitar ocorrências graves”, afirmou a socióloga.
O tipo de violência estrutural que deve ser alvo da prevenção, segundo Caren, não é exclusivo de escolas de regiões carentes. “Quando se trata da violência escolar, percebemos que há uma tendência a apontar culpados: a condição social, a família desestruturada e coisas assim. Mas existe aí um preconceito embutido contra as escolas públicas de periferia. Na realidade, a violência ocorre em qualquer ambiente”, disse.
Para a prevenção, os pesquisadores recomendam o envolvimento de toda a comunidade escolar em projetos coletivos integrados à realidade da escola. O livro tem um capítulo dedicado exclusivamente à análise de ações preventivas, que não são comuns no Brasil. Segundo Caren, a obra não pretende ser uma receita pronta para lidar com o problema da violência escolar, mas apresenta indicações práticas para o tratamento do assunto.
“Constatamos que a ação pode ser efetiva quando está integrada ao projeto pedagógico e quando se trabalha com a mediação de conflitos. Os conflitos diários vão acontecer, mas podem ser tratados de forma que não virem violência”, disse.
Para os pesquisadores, é no ambiente escolar que as crianças aprendem a se relacionar umas com as outras, adquirem valores e crenças, desenvolvem senso crítico, auto-estima e segurança. “Quando nesse ambiente prevalece um clima hostil, de incivilidade e desrespeito, a probabilidade à violência se propaga pela sociedade. Não basta que a escola seja provedora de conteúdos educacionais”, disse.
Publicado originalmente pela Agencia Fapesp, no dia 09/10/2007, no endereço http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=7865