Quase 50 jovens são assassinados todo dia no Brasil. Esse dado estarrecedor é parte de uma pesquisa inédita que o Fantástico antecipa. O estudo mostra que o número de jovens vítimas de homicídio cresceu quase cinco vezes e meia nos últimos 20 anos
Reportagem do Fantástico que foi ao ar no dia 02/12 pode ser assistida através do link: http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM761352-7823-DISPARA+O+NUMERO+DE+JOVENS+ASSASSINADOS+NO+PAIS,00.html
Quase 50 jovens são assassinados todo dia no Brasil. Esse dado estarrecedor é parte de uma pesquisa inédita que o Fantástico antecipa. O estudo mostra que o número de jovens vítimas de homicídio cresceu quase cinco vezes e meia nos últimos 20 anos.
"O filho que perde um pai é órfão de pai. O filho que perde uma mãe é órfão de mãe. E a mãe que perdeu um filho, é o quê? Não existe nem palavra para definir a mãe que perde um filho", aponta a mãe de jovem desaparecido Maria Elza El Matite.
Farid, filho de Elza, tinha 18 anos quando foi visto pela última vez, em 2005.
"Ele saiu para ir a duas quadras daqui e desapareceu. "O que me mata não é a saudade do meu filho. É a incerteza do que lhe aconteceu", lamenta Maria Elza El Matite.
Só no ano passado, foram 17.163 homicídios de jovens com idades entre 15 e 24 anos. É quase a média anual de mortos na guerra civil que terminou em 2002 em Angola, na África.
No Brasil, de 1995 para cá, são 296.622 mortes de jovens por causas violentas. Até o fim da década de 1970, o número de jovens mortos no trânsito, de 4.373, era maior do que o número de jovens assassinados: 3.266.
Nas últimas décadas, as mortes no trânsito quase dobraram, passaram de oito mil, mas foram superadas - de longe - pelos homicídios, que chegam perto de 18 mil em um único ano.
"Nossos homicídios cresceram a uma taxa de 6% ao ano nos últimos 20 anos. Onde a pobreza vive no meio da riqueza e o jovem tem parâmetros comparativos", explica o sociólogo Julio Jacobo.
Usando dados do Ministério da Saúde, o professor Julio Jacobo mostra o quanto aumentou a violência contra os jovens. A taxa era de 21,3 homicídios para cada grupo de cem mil habitantes, considerando toda a população. E subiu para 25,8. Se a gente levar em conta só os jovens, o índice já era muito alto: 30 mortes para cada grupo de cem mil. E chegou a 48,6.
Mas existem lugares no Brasil em que o número de jovens assassinados atinge níveis ainda mais alarmantes. Municípios em que as taxas são três, até quatro vezes maiores do que a média nacional, que já é considerada alta demais.
É o caso do Recife (PE). A cidade aparece no topo da lista das capitais brasileiras mais violentas, com o maior taxa de homicídios de brasileiros entre 15 e 24 anos. Em uma favela na capital pernambucana, onde bandidos de cinco grupos se matam pelo controle da venda de drogas, encontramos uma mulher de 68 anos. Ela criou os cinco filhos na Favela do Coque. Todos estão mortos.
"Eu tive que vender chiclete no sinal para pagar o caixão, o enterro do meu filho", conta a mulher.
"Os jovens da comunidade aparecem como jovens violentos. Mas isso não é verdadeiro. Tínhamos em uma comunidade, que alberga entre 18 e 21 mil jovens, de 14 a 25 anos, e eu cheguei a contar, pessoalmente, 87, 88 jovens envolvidos diretamente com a violência", contabiliza o sociólogo (UFPE) Alexandre Freitas.
No mapa da violência, considerando capitais e municípios do interior, a mais alta taxa de homicídios entre jovens aparece em uma cidade do Sul do país. Foz do Iguaçu, na fronteira do Brasil com a Argentina e o Paraguai, é uma região apontada pela polícia como eixo do contrabando e tráfico. Em 2006, foram 251,4 mortes para cem mil habitantes.
O filho de um homem foi vítima de uma chacina: “Meu filho tinha 17 anos. Ia fazer 18 no dia 24 março. Morreu assassinado", conta.
Dos quatro jovens mortos, dois eram irmãos deste rapaz: "Eu levei um tiro de raspão", mostra.
No Recife, a reação contra a violência partiu de um grupo de jovens repórteres policiais. Eles criaram um blog, um diário na internet – o Pebodycount (www.pebodycount.com.br) - onde publicam diariamente o número de mortos no estado de Pernambuco.
No local de cada crime, os jornalistas pintam a silhueta de um corpo, em vermelho. São de dez a doze novas marcas todo dia. Das vítimas, 40% são jovens.
"A gente quer mostrar que aquela vida perdida não pode ser esquecida no outro dia", aponta o jornalista Carlos Eduardo Santos.
"A gente está contando os mortos da nossa guerra", afirma o jornalista João Valadares.