Aproximadamente 150 estudantes estão acampados no terreno da antiga sede da União Nacional dos Estudantes. A intenção é fazer da sede no Rio de Janeiro um centro voltado para a cultura e para a memória do movimento
Estudantes exigem implantação de nova sede da UNE no Rio de Janeiro
Estudantes continuam acampados na antiga, e provável futura, sede da União Nacional dos Estudantes. A entidade está na tentativa de retomar o prédio localizado na Praia do Flamengo. Após passeata que reuniu quase 600 pessoas, um acampamento foi feito no local. Um estacionamento funcionava ilegalmente no espaço desde a década de 1980, quando o prédio foi demolido. O local tem como estrutura quatro containeres e o espaço para estacionamento, onde estão montadas as barracas.
Um muro cheio de desenhos coloridos e um velho portão de ferro separam a atual moradia de quase 150 estudantes da principal avenida da Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro. Sob uma cobertura de amianto espalham-se as barracas coloridas, com nomes e frases de ícones da militância e outros ídolos. Os únicos locais totalmente protegidos do clima são os containeres já citados, onde estão instalados os banheiros químicos e os chuveiros.
Inicialmente, o antigo prédio que serviu de sede para a UNE por mais de 40 anos era sede do clube Germânia. O clube foi desapropriado em 1942, quando o governo brasileiro assume uma posição contrária ao nazi-fascismo. Por exaltar o folclore alemão o clube passou a ser visto como reduto de simpatizantes nazistas. A entidade se aproveitou da situação criada pelo governo para ocupar o prédio, muito valorizado na época por se localizar próximo ao Palácio do Catete. Cerca de 700 estudantes ocuparam o prédio e exigiram que o presidente Getúlio Vargas doasse este para a UNE, que não possuía endereço fixo.
Segundo Gustavo Petta, presidente da UNE, a retomada do prédio é uma forma de destruir resquícios da ditadura militar, uma vez que o prédio foi incendiado durante o governo de exceção. O foco do incêndio começou nos arquivos da UNE, numa típica queima de arquivos da ditadura militar. A estrutura do prédio foi fortemente abalada, assim como a estrutura da entidade após o incidente. A militância estudantil se tornou prática ilegal em todo o Brasil e os atores tiveram que se organizar clandestinamente. Abandonado, o prédio foi demolido na década de 80. Confrontos com a polícia e prisões de estudantes foram marcas dessa data, apesar da anistia já ter sido dada, a mobilização dos estudantes ainda era muito reprimida.
A escritura do terreno fora devolvida à UNE pelo presidente Itamar Franco, em 1992. No entanto, a diretoria da entidade nessa época se disse crente na luta jurídica e não tentou se reempossar do imóvel. Para o atual presidente isso foi algo positivo, pois evitou confronto físico com os posseiros e até uma possível tragédia. Duas semanas antes da passeata que resultou no atual acampamento o prefeito César Maia havia interditado o local, mas por falta de fiscalização por parte da prefeitura o estacionamento continuava funcionando.
No momento, aproximadamente 150 estudantes estão acampados no antigo estacionamento. Porém a organização destes é um problema enfrentado diariamente. Durante uma plenária, na qual seriam discutidas as regras do acampamento e a divisão das comissões que teriam que ficar no acampamento por segurança durante o carnaval, estavam presentes por volta de 20 pessoas. Segundo Petta as regras são rígidas devido à grande visibilidade que o acampamento tem na mídia e qualquer problema de comportamento individual pode refletir no processo judicial.
A idéia da direção da UNE é manter as duas sedes da entidade no eixo Rio de Janeiro e São Paulo é fazer da primeira um centro voltado para a cultura, memória do movimento e pouco político. Já a sede de São Paulo será voltada principalmente para política e para a manutenção das relações com movimentos sociais e partidos políticos, além de permanecer no local onde há o maior contingente de estudantes universitários do Brasil. Ao ser questionado sobre a centralização do movimento estudantil no Sudeste, devido à implantação das duas únicas sedes da entidade nessa região, Gustavo disse que tem sido feito o esforço de descentralizar e fortalecer o movimento em outras regiões. Para Gustavo Petta, a existência de duas sedes no Sudeste não pode ser motivo de inviabilizar nem subestimar a atuação da UNE no resto do país. Gustavo ressaltou também que a sede do Rio não poderia ser esquecida, depois de tantas lutas terem nela se fortalecido.