Um em cada cinco cursos disponíveis na Universidade Federal do Rio Grande do Sul ficou sem a ocupação dos 15% de vagas reservadas aos autodeclarados negros oriundos de escola pública. Em 20,3% dos cursos oferecidos no vestibular da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), nenhuma vaga reservada aos candidatos autodeclarados negros de escola públicas foi ocupada por esse grupo de cotistas
Entre os 69 cursos disputados, em 14 deles as cotas destinadas para os vestibulandos afrodescendentes ficaram em aberto. Dos 15% de vagas destinadas a negros, apenas 6,8% serão ocupadas. As vagas deixadas por esses candidatos acabaram sendo preenchidas pelos estudantes que se inscreveram como egressos do ensino público, fazendo com que os 30% das cotas sociais fossem preenchidos.
Cursos tradicionais como Direito - Diurno, Medicina, Administração - Diurno e Publicidade e Propaganda estão entre aqueles em que nenhum candidato autodeclarado negro obteve média para a aprovação no concurso. Facilitar o acesso aos cursos mais concorridos era um dos argumentos favoráveis à implantação das cotas. Um detalhe curioso no levantamento é que o curso de Direito - Noturno teve 10 das 11 vagas preenchidas.
Apesar disso, o reitor José Carlos Hennemann destacou que o ingresso de negros na UFRGS triplicou em relação ao ano passado. De acordo com o reitor, dos 4.312 aprovados neste vestibular, 8,4% (361 estudantes) se declararam descendentes afro, incluindo-se a esse percentual os negros que não estudaram no ensino público e ingressaram nas vagas de acesso universal.
Do total de negros aprovados no maior vestibular do Estado, 7,9% (340 alunos) ingressaram utilizando o sistema de cotas - tanto pela reserva racial quanto por ter obtido nota para entrar como egresso de escola pública. No concurso de 2007, quando não havia o sistema de cotas, 2,8% dos aprovados eram negros.
Hennemann também enfatizou que 45% das vagas foram conquistadas por vestibulandos oriundos de escolas públicas, isto é, alunos que fizeram pelo menos a metade do Ensino Fundamental e todo o Ensino Médio no ensino público.
- Esse número é importante, pois em 2007 foram apenas 25% oriundos de escolas públicas. E principalmente porque sempre se diz que a universidade federal não dá as mesmas oportunidades de acesso às pessoas com poucas condições - disse Hennemann.
As matrículas para os aprovados que devem iniciar as aulas no primeiro semestre serão realizadas hoje e amanhã nas unidades acadêmicas localizadas nos quatro campi da UFRGS na Capital. Em cada uma delas haverá uma comissão para receber a documentação que comprove a origem dos candidatos. O pró-reitor de Graduação, Carlos Alexandre Netto, diz que aqueles que se disseram negros deverão preencher uma autodeclaração, mas apenas isso não garante a efetivação da matrícula.
- Vamos usar o bom senso, mas se houver discrepância entre o que o candidato declarou e seu fenótipo (aparência física), o estudante será chamado para uma entrevista e o caso será avaliado pela Comissão de Graduação - explica Netto.
A UFRGS divulgou que a maior média do vestibular - 782,42 pontos - foi da candidata de Medicina Tatiana Klaus Sansonowicz.
Publicado originalmente em 22/01/2008
No jornal Zero Hora, por Gustavo Souza.