Olhos inchados, Carla Vieira dos Santos, 24 anos, corria de um lado a outro do salão do Instituto Médico Legal-Nina Rodrigues, ontem pela manhã. Um entre tantos familiares no Nina que aguardavam a liberação dos corpos de seus familiares, a mulher é irmã de Antônio Arcanjo dos Santos, 19 anos, assassinado a tiros na porta de casa, no bairro da Engomadeira
O Jovem tem o perfil das vítimas de homicídios na Grande Salvador, de acordo com dados do Fórum Comunitário de Combate à Violência (FCCV), que lança hoje o livro Direitos Humanos no Combate Violência: Ações com Adolescentes e Jovens. A publicação reúne dados de violência, como a praticada contra Antônio Arcanjo, e está sendo patrocinada por um de seus membros, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).
“Nossa intenção é mostrar, não apenas os dados da violência contra crianças e jovens, mas reunir experiências que vêm dando resultado nas comunidades, por inciativa de instituições, mas que não podemos considerar como políticas públicas”, explica a professora universitária Heloniza Costa, uma das coordenadoras do FCCV. “Apesar de bem-sucedidas, são anda são ações que atingem parcelas pequenas da população” O lançamento acontece às 16 horas, no Museu de Arte Sacra da Bahia (Rua do Sodré, 2 de Julho) e vai contar com performances de grupos artísticos, além da apresentação de pontos da publicação, que traz estatísticas com indicadores de altos índices de violência na Bahia. O livro, com tiragem inicial de 2 mil exemplares, foi organizado pelos especialistas Nei Wendel e Anaeli Bastos. O livro pontua que, entre 1998 e 2004, 68% das vítimas de homicídios tinham entre 15 e 29 anos, mesma faixa etária de Antônio. Como ele, a maioria das vítimas é de negros e pobres. No ano de 2004, a proporção de negros dentre as vítimas de homicídios chegou a 95%.
Para Ruy Pavan, coordenador do Unicef (Bahia e Sergipe) o objetivo do livro é contribuir para a melhoria dos serviços públicos da cidade: “Com a publicação, o Unicef contribui para o FCCV recuperar sua trajetória, desde 96. É a divulgação da experiência acumulada”.
Pavan lembra que a base do fórum reúne, além de acadêmicos e poder público, a comunidade.
GRATUITO –Heloniza conta que o livro será distribuído gratuitamente, aos convidados para o lançamento de hoje e, depois, a instituições e pessoas que trabalham com a temática. Segundo ela, solicitações podem ser feitas pelo e-mail fccv@ ufba. br.
O livro Direitos Humanos no Combate à Violência: Ações com Adolescentes e Jovens reúne 11 anos de ações do coletivo de entidades que atuam na Bahia pela cultura de paz. No lançamento, hoje, A TARDE participa do debate, apresentando dados da série de reportagens sobre a impunidade no Estado.
Publicado originalmente em 18/12/07, pelo Jornal A Tarde (BA)