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Juventude, o tesouro de Obama

Os eleitores jovens foram um fator importante para a vitória de Barack Obama nas eleições de 4 de novembro nos Estados Unidos, mas, ainda resta ver se seu entusiasmo político sobreviverá à prova do tempo. Segundo pesquisas nacionais de boca de urna feitas pelo Centro de Informação e Pesquisa sobre Cultura e Participação Cívica (Circle), 66% dos estimados 23 milhões de eleitores entre 18 e 29 anos apoiaram Obama nas eleições presidenciais, contra 32% que se inclinaram por seu principal adversário, John McCain

Enquanto Obama se prepara para assumir o cargo amanhã* (20/1) e o país continua em meio a uma grave crise econômica e duas guerras no exterior, os jovens ativistas partidários do Partido Democrata sabem que o desafio é manter o compromisso e forjar novas alianças entre si e com outros movimentos da sociedade civil. “É preciso encontrar uma forma de manter os jovens interessados sobre uma base legislativa”, disse à IPS a diretora-executiva da organização Young Voter PAC, Jane Fleming Kleeb. “A tarefa-chefe é descobrir como fazer os jovens serem atores políticos na esfera de Washington, e esse será um trabalho muito difícil”, acrescentou.

Estimulados pelo carisma pessoal de Obama e seu discurso progressista, e, ainda, impulsionados por populares sites de redes sociais na Internet, como MySpace e Facebook, os eleitores jovens cresceram mais de 50%, 5% mais do que nas pesquisas de boca de urna das eleições de 2004, segundo Circle. Então, o que se pode fazer para manter o entusiasmo dos jovens eleitores uma vez encerrada a lua de mel Kleeb afirmou que,considerando que a maioria dos jovens não tem muita presença em Washington, deveriam unir-se a grupos de base, como os sindicatos, para garantirem não ficarem fora da equação quando forem elaboradas as políticas do país.

Peter Levine, diretor do Circle, vê grande potencial neste setor da sociedade. “Os jovens que apoiaram Obama deveriam ser capazes de continuar pressionando por uma mudança política, que realmente signifique uma mudança legislativa”, disse à IPS. “Devem estar incluídos em coisas como a luta por uma legislação sobre mudança climática e ter vias para realizar ativismo em nível de base para legislar”, acrescentou.

Existe o perigo de os jovens se desencantarem se virem que a nova administração não é capaz de solucionar os inúmeros problemas que tem este país, nos próximos meses ou anos, mas Kleeb é otimista. “Creio que os jovens estão conscientes de que isto será muito difícil de ser alcançado. Não esperam que o atendimento médico esteja disponível para todos os norte-americanos da noite para o dia. E isto é o que há de maravilhoso sobre esta geração, que enquanto são muito idealistas também sabem que a mudança nas estruturas do governo será lenta.

Levine, por sua vez, disse: “Há uma necessidade real de capacidade de resistência, porque é provável que sejam anos ruins. Não há como um presidente solucionar esse problema. Essas expectativas são muito altas. Obviamente, é muito cedo para dizer, mas as pessoas estão fazendo uma analogia com 1932. o então presidente Franklin Delano Roosevelt ganhou um apoio duradouro da maioria dos norte-americanos. Foi eleito por cinco períodos mesmo sem ter conseguido solucionar a Grade Depressão”, acrescentou.

Taylor Black, de 25 anos, não é um típico eleitor jovem. Este professor de escola primaria no distrito novaiorquino do Brooklyn começou como partidário de Obama. “Votei por ele nas primarias” do Partido Democrata, disse à IPS. Mas nas eleições presidenciais optou pelo independente Ralph Nader. O que o levou a mudar de opinião? “Me desiludi. No verão percebi que as políticas de Obama ficavam cada vez mais corporativas”, disse Black. “A campanha de Obama estava cheia de emoção, o que é bom, mas não era muito substancial nem muito progressista. Em muitas formas, apenas se baseava em debates, parecia estar fazendo a mesma velha coisa democrática”, afirmou. “As doações corporativas pagas durante toda sua campanha certamente entrarão no jogo, porque essas pessoas ainda têm seus recibos. Estão esperando algo”, disse Black.

Com diploma universitário, este professor tem o perfil da maioria dos eleitores menores de 30 anos. Continuando com a tendência observada nas eleições passadas, os jovens sem experiência universitária estiveram escassamente representados nas urnas em 2008. Setenta por cento dos que eleitores jovens cursaram a universidade. Além disso, os que tinham menos de um diploma do curso secundário representavam apenas 6% dos jovens eleitores, contra 14% do conjunto geral de eleitores.

Para fechar esta brecha educacional, Kleeb exorta grupos de jovens e outros envolvidos na campanha política a deixarem de se concentrar exclusivamente nos campus universitários e adotem uma tática de maior alcance, já que apenas 25% da população norte-americana vai à universidade. “Trata-se de ir às comunidades, a lugares onde os jovens estão, seja em cafés, bares ou outros lugares fora dos centros de estudo”, afirmou.

*A reportagem foi publicada no dia 19/01 no site Mercado Ético.