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Jovens se interessam por política, mas ainda participam pouco desse processo

No Brasil, 28% dos jovens estão engajados em algum grupo ou associação; desafio é incentivar essa participação

Pauta ANDI  -13/04/2006

A poucas semanas do encerramento do prazo para tirar título de eleitor para as eleições de outubro, estimular o primeiro voto entre os jovens de 16 e 17 anos parece um desafio. Afinal, há um sentimento dominante de que os jovens são apáticos em relação à política.

Verificar a percepção dos jovens sobre participação política foi um dos objetivos da pesquisa Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, realizada pelo Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) e Pólis (Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais). Foram ouvidos, entre julho de 2004 e novembro de 2005, oito mil jovens de 15 a 24 anos em sete regiões metropolitanas (Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo), além do Distrito Federal.

De acordo com a pesquisa, há um exagero quando se denuncia a “apatia juvenil” sem levar em conta que a crise de participação cidadã atinge todas as faixas etárias da população.

Participação juvenil
Entre os jovens entrevistados, 28% têm algum engajamento em grupos ou associações, sejam ligados a igrejas, partidos políticos, instituições ou movimento estudantil.

Embora 28% possa ser considerado um índice baixo, a socióloga Anna Luiza Souto, do Instituto Pólis, afirma que essa percentagem é valiosa se comparada à faixa dos adultos. “Estudo da Criterium, de São Paulo, revela que entre os adultos esse índice é de 19%”, disse ela, que foi coordenadora-adjunta da pesquisa e apresentou o resultado no Fórum Social Mundial, em janeiro, na Venezuela.

Importância da política
O levantamento Jovens eleitores: consciência e participação na política desenvolvido pelo Instituto Cidadania na Região Metropolitana de São Paulo, em 2004, junto a 240 adolescentes de 15 a 17 anos, mostra que, para 84% dos entrevistados, a política é importante e interfere no dia-a-dia. E mais de 90% disseram que acompanham os fatos políticos: 45% desses, pela televisão.

Desafio
No Fórum Social Mundial, durante seminário que debateu os anseios e possibilidades de envolvimento político das novas gerações, foi apresentado que existe uma semelhança sobre a participação dos jovens na América Latina: um quarto deles tem algum engajamento político.

Para Oscar D’Ávila, da área de participação juvenil da ONG CIDPA (Centro de Investigação e Difusão Populacional de Achupallas), do Chile, “o desafio é fazer com que os outros três quartos de jovens passem a participar”.

Também foi discutido o papel do Estado na promoção do aumento da participação dos jovens na política. Segundo Jorge Escobar, da associação Viva la Ciudadania, da Colômbia, isso deveria ser uma obrigação constitucional. “O problema é que os jovens raramente são chamados para opinar e quase nunca para decidir”, disse.

Desencanto
Além de entrevistar 8 mil jovens, a pesquisa do Ibase e do Pólis fez Grupos de Diálogo com 913 jovens, entre março e maio de 2005. Desses, 64% disseram que não acreditam que os políticos representem os interesses da população. No Distrito Federal, a descrença é ainda maior: mais de 80% não crêem nas boas intenções dos políticos.

De acordo com o relatório da pesquisa, houve no DF um número maior de recados dos jovens voltados para a cobrança de responsabilidades, posturas éticas, honestidade, dignidade, não-corrupção dos governantes, dentro outros. O fato de Brasília concentrar os poderes políticos ajuda a explicar porque os Grupos de Diálogo do DF tenham mais críticas relacionadas à pouca credibilidade nos políticos e à necessidade de renovação dos governantes e das formas de fazer política.

A estudante de Ciências Sociais da Universidade de Brasília Renata Florentino, da ONG Interagir, afirma que é bastante simbólico que os jovens da capital federal sejam os mais críticos. “Os jovens valorizam a política, mas como estão mais perto do poder, eles acompanham mais facilmente o desempenho dos políticos e vêem que não funciona. Justamente por isso, buscam outras formas de participação”.

Título de eleitor
Jovens que vão votar pela primeira vez nas eleições gerais de outubro têm até o dia 3 de maio para requerer inscrição eleitoral. Este também será o último dia para solicitar transferência de domicílio eleitoral. Essas regras valem apenas para as eleições deste ano, em que serão eleitos o presidente da República, governadores, senadores e deputados federais.

O voto é obrigatório para maiores de 18 anos e facultativo para os maiores de 16, de 70 anos e aos analfabetos. Para obter o título, é preciso ir ao Cartório Eleitoral mais próximo do endereço de moradia e preencher o requerimento de alistamento eleitoral. É necessário levar certidão de nascimento ou carteira de identidade ou passaporte e comprovante de residência. A inscrição é gratuita.

Pauta política
Esta é a segunda de uma série de quatro pautas sobre participação dos jovens no processo eleitoral. As publicações de Mídia Jovem podem aproveitar o prazo para registro eleitoral para incentivar seus leitores a se inscrever para votar em outubro e a buscar informações sobre os candidatos e suas propostas.

Fontes:

Instituto Cidadania
Helena Abramo – socióloga (11) 3836-5621
www.institutocidadania.org.br

Instituto Pólis
Anna Luiza Souto – socióloga
(11) 3258-6121 – polis@polis.org.br - www.polis.org.br

Ibase
Itamar Silva – coordenador-geral da pesquisa
(21) 2509-0660 – ibase@ibase.org.br - www.ibase.br

ONG CIDPA - Chile
Oscar D’Ávila – área de participação juvenil - oscar@cidpa.cl
www.cidpa.cl

Viva la Ciudadania – Colômbia
Jorge Escobar – diretor regional em Bogotá
regionalbogota@vivalaciudadania.org  - www.vivalaciudadania.org

ONG Interagir (jovens)
Renata Florentino – estudante (61) 3036-9675

Unicef
Rachel Mello – Oficial de Comunicação
(61) 3035-1947 – rmello@unicef.org