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Jovens mulheres abandonam o leste da Alemanha

21 de julho de 2007

Para Saskia Recknagel, 17 anos, que está cursando a penúltima série do Segundo Grau no liceu Am Lindenberg, em Ilm, região da Thuringe (na ex-Alemanha Oriental, RDA), "mudar-se para outro lugar constitui uma verdadeira opção". Assim como ela, muitas são as colegiais que procuram por melhores perspectivas de empregos e, para tanto, prevêem deixar a região. Desde a queda do regime comunista e do desmoronamento da economia, a região da Alemanha Oriental perdeu mais de 1,5 milhão de habitantes, particularmente os mais qualificados

As jovens mulheres partiram em massa, causando um desequilíbrio entre os sexos único na Europa. Atualmente, grande parte das regiões da ex-Alemanha Oriental apresenta um déficit feminino de pelo menos 15% entre as pessoas que têm menos de 30 anos. Na circunscrição de Ilm, a desproporção alcança níveis extremos, uma vez que foram recenseadas 78 mulheres para 100 homens na faixa de idade situada entre 18 e 29 anos.

Nas ruas de Arnstadt, a principal cidade do distrito, a ausência de jovens mulheres não é tão evidente assim. Na praça do mercado, na parte antiga da cidade, as mais visíveis são as pessoas idosas. "Não é um fenômeno que chama a atenção no dia-a-dia", explica Sebastian Lenk, o porta-voz da circunscrição. Mas é durante a noite, "ao sair para curtir nos bares e nas boates, que você percebe que a presença feminina diminuiu", acrescenta.

Reuniões de extrema-direita
Ora, este déficit feminino tem repercussões visíveis no comportamento dos eleitores. Os pesquisadores do Instituto de Demografia de Berlim constataram que a extrema-direita não raro está implantada nos lugares onde as mulheres estão em falta.

Embora o NPD (Partido Nacional-Democrata da Alemanha, fundado em 1964 por antigos militantes nazistas) esteja longe de obter em Ilm os resultados que ele consegue em certos distritos da Saxônia ou do Mecklembourg-Pomerânia Ocidental, a situação pode mudar.


POPULAÇÃO
Entre 1991 e 2005, cerca de 400.000 mulheres com menos de 30 anos, contra 273.000 homens deixaram a Alemanha Oriental. A baixa população feminina alcança um nível recorde em Thuringe, com uma média de 82 mulheres para 100 homens entre as pessoas com idade de 25 a 29 anos. A circunscrição de Ilm conta 115.753 habitantes.

GRAU DE ESTUDO
Entre 1999 e 2004, 30,9% das colegiais se tornaram titulares do diploma geral de conclusão dos estudos do Segundo Grau, contra 20,8% dos rapazes na Alemanha Oriental. Entre 1999 e 2004, 26,1% das colegiais, contra 20,3% dos rapazes, haviam obtido o diploma de conclusão dos estudos na Alemanha Ocidental.

EMPREGO
Na circunscrição de Ilm, a taxa de desemprego alcança 15,3%, entre os menores de 25 anos; 11% dos homens e 6% das mulheres estão procurando um emprego.


"As reuniões dos jovens de extrema-direita tendem a ser mais freqüentes e a mobilizar um maior número de simpatizantes", afirma Martina Lang, uma eleita social-democrata da cidade de Arnstadt e diretora da agência local para o emprego.

O sucesso escolar das jovens costuma ser mencionado para explicar essas migrações femininas. Este fenômeno, que é comum em toda a Alemanha, é particularmente flagrante no Leste. As jovens costumam obter notas muito melhores logo do Primeiro Grau, e são mais numerosas a serem titulares de um diploma de conclusão dos estudos do Segundo Grau.

Esta situação se reflete no mercado de trabalho. As estatísticas da agência para o emprego de Arnstadt mostram que o desemprego atinge muito mais os homens do que as mulheres. "Os homens são preguiçosos, eles preferem ficar aqui em vez de tentarem procurar por um trabalho numa outra região", afirma Martina Lang.

As mulheres enviam um maior número de candidaturas, participam com maior freqüência de estágios de formação. "Elas são flexíveis e não hesitam a partir caso elas não consigam encontrar um emprego", resume Martina Lang. Esta é sem dúvida a opção que escolherá Lydia Leide, uma estudante em economia dos meios de comunicação na Universidade de Ilmenau. "A Thuringe oferece muito poucos empregos no meu setor; eu talvez não tenha outra alternativa a não ser instalar-me em outro lugar", explica esta morena alta de 21 anos.

Este comportamento é em parte uma herança da antiga RDA. "Na época do regime comunista, a maioria das mulheres era obrigada a trabalhar; esta mentalidade impregna até hoje as jovens mulheres", sublinha a diretora da agência de emprego. A idéia, ainda muito dominante no Oeste, de encontrar um marido que faça viver toda a família permanece alheia às preocupações das jovens estudantes do Leste. "Está fora de cogitação que eu renuncie a trabalhar", confirma Saskia Recknagel.

A outra explicação apresentada pela administração do Ilm-Kreis sustenta que é reduzida a proporção de empregos "femininos". "Nós temos muitas empresas no setor da construção mecânica, na construção civil e nos transportes", explica Sebastien Lenk.

Além disso, a universidade técnica de Ilmenau está orientada, sobretudo, para a formação dos futuros engenheiros. As estudantes representam 28% do número total de alunos, enquanto a sua proporção diminui até mesmo para 10% nas carreiras as mais técnicas.

Para tentar segurar as jovens mulheres na região e incitá-las a se voltarem em maior número para profissões consideradas como "masculinas", a universidade técnica organiza todo ano reuniões de informação nos colégios da circunscrição. Mas os organizadores desta iniciativa não nutrem nenhuma ilusão em relação aos efeitos dos seus esforços: "É uma gota de água no oceano", dizem.

Tradução: Jean-Yves de Neufville

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Fonte: Uol Mídia Global