Estudo apoiado pela FAPERJ e coordenado pela psicóloga Terezinha Féres-Carneiro, do Departamento de Psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), sugere que os projetos profissionais estão mais presentes nos planos e preocupações dos jovens do que a vida conjugal
Foi-se o tempo em que o casamento (considerando tanto os casamentos formais quanto informais) era etapa fundamental nos planos dos jovens adultos das classes média e média alta urbanas, sejam homens ou mulheres. Perguntados sobre como se imaginavam daqui a dez anos, apenas a minoria do público entrevistado citou espontaneamente o casamento.
O objetivo original da pesquisa Conjugalidade dos pais e projetos de vida dos filhos frente ao laço conjugal era identificar que influência o casamento dos pais pode exercer nos projetos de casamento dos filhos. Para isso, a equipe da PUC-Rio aplicou um questionário entre jovens de 19 a 30 anos (amostra de 278 universitários de classes média e média alta) para avaliar qual era sua percepção em relação ao casamento dos pais – como avaliavam seu grau de satisfação.
Em seguida, foram entrevistados 14 jovens (sete homens e sete mulheres) dentre aqueles que classificaram o casamento dos pais como muito satisfatório ou, no extremo oposto, como muito insatisfatório. Os resultados parciais mostraram que, mesmo entre os que avaliaram a convivência dos pais como muito satisfatória, a maioria, independente do sexo, não citava espontaneamente o casamento, mesmo que informal, em seus planos.
Apenas seis jovens (três homens e três mulheres) o mencionaram. Entre os homens, a conjugalidade não apareceu como prioridade e sim como uma etapa posterior à conquista de estabilidade financeira, de viagens de aprimoramento profissional ou de lazer. Entre as mulheres, a priorização da vida profissional também foi apontada. “Mas, diferentemente dos homens, a vontade de ter filhos aparece como fundamental. A maternidade, porém, não está necessariamente vinculada ao casamento: duas entrevistadas afirmaram que pretendiam ser mães solteiras”, destaca Terezinha.
A pesquisa constatou que a inclusão do casamento nos projetos de vida dos jovens solteiros não está vinculada diretamente à avaliação da conjugalidade dos pais. De acordo com a pesquisadora, estudos sobre casamento e separação no Brasil têm demonstrado uma crescente taxa de divórcios e uma significativa diminuição no número de casamentos formais. “Além de casarem formalmente cada vez menos, os brasileiros também estão casando cada vez mais tarde”, destaca a pesquisadora.
Segundo o Anuário Estatístico, publicado em 2004 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a idade média dos homens ao se casarem aumentou de 26,9 anos em 1990, para 31,6 anos em 2002. Entre as mulheres, a média de idade subiu de 23,5 anos, para 26,3 anos no mesmo período. Em estudo anterior, Terezinha já havia apontado que hoje existe um adiamento não apenas do casamento, mas também da saída da casa dos pais, mesmo entre os jovens adultos que já tenham independência financeira.
Para Terezinha, a ida das mulheres para o mercado de trabalho e a liberdade sexual contribuíram muito para essa mudança na percepção sobre o casamento. “Em gerações anteriores, os papéis de gênero eram muito bem definidos e o casamento ocupava um lugar de destaque no projeto de vida, sobretudo das mulheres. Hoje, homens e mulheres precisaram se adaptar a uma nova realidade”, sugere a pesquisadora.
Paralelamente, Terezinha também está conduzindo um estudo de validação do questionário que foi utilizado na primeira fase da pesquisa, na qual os jovens avaliaram o casamento dos pais. Nesse estudo, o público-alvo será muito mais abrangente, com faixas etárias mais amplas, diferentes camadas sociais e mais de mil respondentes.
Publicado no Boletim Faperj em 16/11/2006