A 1ª Conferência Nacional da Juventude apontou forte preocupação com a
participação política. Mas, no dia-a-dia, há um abismo para a
construção ou o fortalecimento de espaços de participação, capacitação,
informação e mobilização da juventude.
A difículdade é a União Nacional dos Estudantes ( UNE), pois há cerca
de dez gestões que não há revezamento em sua direção (sob o comando do
PCdoB), o que dificulta as ações e iniciativas de entidades de base das
universidades que buscam atuar em concomitância com as entidades
regionais e nacionais de representação dos estudantes.
Alguns pontos a considerar: a) a sede da UNE deveria estar localizada
numa cidade como Feira de Santana, na Bahia, facilitando a presença dos
líderes estudantis nas reuniões e nas atividades da entidade todos os
meses; b) a concentração das verbas públicas na UNE, como os R$ 2,3
milhões utilizados e a solicitação de outros R$2,2 milhões, não condiz
com a própria história da UNE e muito menos com o movimento estudantil
brasileiro; c) o lobby da UNE em Brasília pretende forçar o Estado a
construir um prédio de 13 andares na praia do Flamengo, no Rio de
Janeiro, cuja valor não sairá por menos de R$10 milhões; a nova sede é
injustificável, bastariam um monumento e um auditório para dotar o
terreno histórico de atividades e sentido para o movimento estudantil..
O próprio presidente Lula disse dias atrás que o Estado tem uma dívida
enorme com a juventude brasileira. Muitas outras autoridades
manifestaram o desejo de que nossa juventude participe da discussão das
mais diversas questões políticas. A comunidade de estudantes envolvida
com a Conferência Nacional da Juventude concordou com o que foi
verbalizado pelas autoridades políticas.
Mas o pagamento dessa dívida, com incentivo ao envolvimento dos
estudantes com as questões políticas, não deveria necessariamente
passar pela UNE, mas pelo conjunto das entidades estudantis
brasileiras, que não possuem estrutura e muito menos recursos
financeiros,para financiar suas atividades, tendo apenas a vontade de
contribuir para o desenvolvimento do país.
A exclusividade seria uma distorção e uma grande injustiça com a nossa
juventudes,,principalmente como aqueles jovens que estão ocupando
reitorias, lutando por direitos ou participando de projetos culturais e
sociais voltados às camadas populares.
Quando o Estado apóia o pensamento único e concentra suas políticas num
único projeto político, sem olhar o que está acontecendo à sua volta,
mobiliza recursos de toda a sociedade para beneficiar apenas a um grupo
político, cedendo às bajulações e pressões de seus membros. Se isso
ocorre, as práticas democráticas deixam de ser regra e caminhamos para
o obscurantismo.
Mas ainda há tempo de comunicar à nossa elite política sobre o erro que
estão cometendo do ponto de vista do interesse público se não atenderem
igualmente às demandas de todas as entidades da nossa juventude
estudantil.
Publicado em: 08/05/2008
Pelo jornal O Tempo.
Por Otávio Luiz Machado.
Pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)