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Entrevista com Pedro Veiga – Coordenador do ProJovem no Rio de Janeiro

O Observatório Jovem/UFF entrevistou o coordenador geral do ProJovem no Rio de Janeiro, Pedro Veiga, que trabalha no Gabinete da Secretaria Municipal de Assistência Social, onde coordena o “Núcleo de Inclusão Produtiva”, possui pós-graduação na gestão de projetos

Observatório Jovem   13.10. 2005

No começo deste ano o Governo Federal lançou o Programa Nacional de Inclusão de Jovens – ProJovem –destinado a jovens de 18 a 24 anos que cursaram até a 4ª série mas não concluíram o Ensino Fundamental. O programa surge no conjunto das políticas federais de juventude que inclui, também, a Secretaria Nacional de Juventude e o Conselho Nacional de Juventude. Em linhas gerais, o programa visa criar oportunidades para jovens em condição de “vulnerabilidade social” através da estratégia de criação de curso certificador que permite a continuação dos estudos no âmbito do Ensino Fundamental, da “formação profissional” e do desenvolvimento de ações comunitárias e de formação para a cidadania. A perspectiva do governo federal é de que, ao final de 12 meses, os jovens matriculados prestarão exame nacional específico do programa que lhes garantirá o certificado de conclusão do ensino fundamental. Espera-se com isso estimular a busca pela matrícula no ensino médio e favorecer a entrada no mercado de trabalho ou, ainda, a atuação do jovem por meio de empreendimento próprio em sistemas de cooperativas ou de economia solidária.

É, portanto, com bastante atenção que todos os interessados na questão da juventude no Brasil acompanham a implantação do ProJovem que, aos poucos, sai de Brasília para ser traduzido por novos atores situados no chão das capitais selecionadas para iniciar  o programa. 

Segundo o coordenador, o programa está sediado na Assistência Social do município pelo fato dessa secretaria ter “boa relação com o governo federal”.  Para Veiga o papel da Secretaria de Assistência Social no município hoje é garantir acesso a direitos básicos. Neste sentido ele vê a perspectiva da formação profissional como um dos aspectos mais importantes do programa. Na entrevista que segue Pedro fala de uma escola minimalista para jovens – que transmita o essencial – e demonstra  “otimismo pedagógico” acreditando que a nova escola criada pelo governo federal será a chance para que os jovens tenham o sucesso escolar que não conseguiram na escola regular de Ensino Fundamental.  
 
 
Observatório Jovem (OJ) – Em sua opinião o que motiva o ProJovem (PJ) no âmbito nacional?
Pedro Veiga (P. Veiga) –
O objetivo do governo federal é cobrir uma dívida que o estado tem com esta faixa etária, com o jovem, ele não pega o jovem, no conceito moderno, que seria de 16 a 28, mas pega uma faixa etária interessante [18 a 24 anos], na proposta de inserção no mercado de trabalho. O projeto tem 4 elementos fundamentais – os R$ 100,00 não fazem parte destes elementos fundamentais, principalmente no Rio de Janeiro, porque R$ 100,00 não mantêm jovem em programa nenhum, principalmente nesta idade. O tráfico, a informalidade, a ilegalidade em qualquer sentido paga muito mais do que isso. Os R$100 são, literalmente, uma bolsa para que o cara possa se deslocar, fazer um lanche – apesar de já ter lanche no projeto – é uma ajuda. Assim, o fundamental é:
1º) o Ensino Fundamental vai ser concluído em 1 ano. Alguém que saiu da escola há 10 anos teria que voltar a estudar 4 anos para concluir o EF, no PJ a proposta é que ele conclua em 1 ano, independente da série. Isso ocorre porque o projeto parte do princípio que, se o sujeito tem 23 anos e só tem a 4ª série ou se ele tem 20 anos e tem a 7ª, o nível de conhecimento é o mesmo, pois saíram da escola há cerca de 6 anos, esqueceram praticamente tudo. Eles são igualados por baixo, inevitavelmente, o que pode parecer estranho mas é melhor. 2º) Pega-se uma faixa etária que está desnorteada profissionalmente, o cara já foi motoboy, faxineiro, boy. Se perguntar qual a profissão do jovem ele não saberá responder. A proposta é que no final do ano se pergunte a ele qual a sua profissão e ele possa dizer “eu sou ladrilheiro”, “eu sou figurinista”, que ele tenha um objetivo e uma procura. É muito mais fácil procurar o que se sabe. A 3ª questão fundamental é a da inclusão digital. Num mundo globalizado, onde a juventude toda acessa a internet, se comunica, tem acesso a milhares de informações, possibilidades... até possibilidades de emprego, de procurar classificados on line, a inclusão digital passa a ser uma forma de inclusão social. Portanto, é fundamentado que o ProJovem tenha esta proposta, com a vinda dos 200 laboratórios de informática. A última questão fundamental do projeto é a ação comunitária. Aí é que é interessante que o projeto tenha vindo para esta secretaria porque ela já tem esta proposta: todo benefício concedido individualmente deve, necessariamente, se refletir de alguma maneira na comunidade onde o sujeito está. O projeto tem, então, a proposta de que o jovem leve uma carga de atividades para dentro da comunidade, isso representa um ganho primeiro individual, a partir do momento que ele começa a se relacionar de uma forma diferente com a comunidade dele e pra comunidade, obviamente. Haverá, portanto, numa estação “x” 1200 jovens num final de semana por mês, pelo menos, fazendo uma atividade grande na comunidade: recreação com as crianças, esclarecimento na questão das drogas, esclarecimento na questão da atividade sexual, ou efetivamente fazendo alguma coisa. Se uma estação tem como meta a questão da construção civil, será possível ter, depois de 3 meses, 1200 jovens pintando a escola, fazendo uma calçada. O projeto tem a proposta de interligar o plano de qualificação, de formação e de ação comunitária de forma integrada.
 
OJ - Uma das críticas que o PJ tem sofrido é em relação ao possível aligeiramento dos conteúdos, uma vez que se trata do 2º segmento do Ensino Fundamental. O que aconteceria em 4 anos vai acontecer em 1 ano. Não se está abrindo mão das diretrizes curriculares nacionais? Qual a defesa desta alternativa que não acontece, por exemplo, na escola regular? É um ensino mais aligeirado? É porque é para jovens pobres?
P. Veiga –
Não, não porque é para jovens pobres. A primeira defesa é que é regulamentado pelo MEC; é um reconhecimento do Ministério da Educação de que a proposta pedagógica atinge o conteúdo do Ensino Fundamental. A segunda defesa é: funciona como qualquer supletivo. E a terceira justificativa é na parte pedagógica efetiva: parte-se do pressuposto que este jovem não vai voltar a estudar nunca, então, a possibilidade dele voltar a estudar já é positiva. O jovem não vai ficar 4 anos estudando, ele não tem esta possibilidade. Por exemplo, um jovem das camadas menos favorecidas, com 20 anos tem 3 filhos, não tem condições de ficar 4 anos na escola. No PJ primeiro haverá nivelamento do conhecimento, conhecerá a equipe pedagógica, principalmente os professores, saberá que é o mesmo professor que o acompanha do começo ao final e isso dá uma carga de atendimento individual diferenciado. O professor tem um papel diferente do da escola e aí a proposta pedagógica do PJ permite que este supletivo, que teoricamente seria em 2 anos – da quarta à sexta série e depois da sexta à oitava série, cada um em um ano – seja em apenas 1. É assim que funciona o supletivo do Ensino Fundamental normalmente, só que o professor que dá aula no supletivo é o mesmo que dá aula na escola, por isso não funciona. No PJ o professor é diferente, ele tem papel de orientador, tem uma carga horária de trabalho extra-sala quase igual à de dentro de sala, para poder orientar o jovem, para fazer o tratamento individual de cada um. Se um aprendeu muito bem a matemática, mas não aprendeu português – português é dado para todos por igual, lembrando que se está nivelando sempre por baixo – vai ter uma carga de português melhor. São pequenas nuances do programa que o diferem do supletivo, que permite que ele seja dado em 1 ano. É o ideal? Como eu falei não é, e o governo federal também não o considera ideal, mas é o que funciona para esta faixa etária e perfil. Você perguntou, é porque é para pobre? Não porque é pobre, mas porque o perfil, principalmente o perfil que estamos pegando, é de menos favorecidos.
 
OJ - Existe uma relação entre a experiência implementada pela secretaria municipal de Educação do Rio de Janeiro (Programa de Educação de Jovens e Adultos – PEJA) e o PJ?
P. Veiga –
Tem uma relação. A prof. ª Maria José [Feres], que é a coordenadora nacional do PJ, também é uma das pessoas que participou da criação do Programa de Educação Juvenil [primeiro nome dado ao programa, que, recentemente, passou a atender também a adultos, recebendo a atual denominação de PEJA]. Qual é a diferença do PJ pro PEJA? Ele [ProJovem] tem uma proposta diferente de qualificação profissional e de ação comunitária. Não é simplesmente um curso de formação do Ensino Fundamental, a proposta dele não é só essa. E as 3 propostas principais tem o mesmo peso, ou seja, está se tratando o jovem que é menos favorecido, que largou a escola pública por diversos motivos e que vive uma realidade diferente. O jovem do PEJA pode fazer o PJ e vice-versa? Pode, mas eles têm realidades essenciais diferentes. No PJ se trabalha com uma diretriz muito forte na questão do trabalho, a carga horária de trabalho, de qualificação profissional, de entendimento do mundo do trabalho é quase igual à carga horária de Ensino Fundamental.
 
OJ – Você quer dizer então que os alunos que procuram o PJ e o PEJA são diferentes?
P. Veiga –
Ele está procurando algo mais do que o aluno do PEJA.  No PEJA o cara vai lá para acabar o Ensino Fundamental, ou porque ele já tem um trabalho e isso pode melhorar a vida dele dentro do trabalho, como qualquer formação, seja 8ª série, seja 2º grau. Ele vai queimando estas etapas, vai melhorando, teoricamente, a sua condição dentro do mundo do trabalho. O cara que tem o doutorado tá melhor do que aquele tem o mestrado e assim sucessivamente. Então, o jovem que busca o PJ vem imbuído desta necessidade do mundo do trabalho, o do PEJA não tem esta característica. O PEJA é simplesmente, não no sentido pejorativo, um programa de aumento de escolaridade. O PJ não é um programa de aumento de escolaridade, o programa tem 3 propostas dentro de uma. Por isso que o nome dele não cita aumento de escolaridade, é um objetivo dentro de uma proposta maior, que é a inserção social através das 4 características das quais já falei.
 
OJ – Vamos tratar da questão da bolsa. Você deixou claro que ela não é uma contrapartida. Então, por quê o jovem ganha a bolsa?
P. Veiga –
Ele ganha a bolsa porque a gente sabe que é difícil este jovem voltar para a sala de aula, é difícil se inscrever e se dispor a ir todos os dias. A gente sabe que a pobreza, a miséria, a exclusão são formas cruéis de paralisação. A possibilidade está aqui e o cara não consegue enxergar nesta possibilidade uma solução, e aí ele não se movimenta para ir em direção a ela. Isto é notório em todos os nossos projetos, é preciso ir buscá-los. Se, além disso, tiver que pagar para ir, ele não irá. A bolsa não é um pagamento, mas é uma forma de não ter que pagar para participar, pois é preciso pegar ônibus, se deslocar. A gente sabe que R$100,00 não resolve nada. A bolsa é um auxilio, mas não é transferência de renda, não é complementação de renda, não é!
 
OJ – Em que condições o jovem mantém e em que condições ele perde essa bolsa?
P. Veiga –
É como na escola: 75% de freqüência. A avaliação no PJ é diferente, sabe-se que 50% dos jovens que saíram do colégio saíram porque “bombavam” [reprovavam]. Bombava a primeira vez, outra vez, na terceira vai embora. E por que isso ocorre? O despreparo do colégio de atender aquele jovem que está com 18 anos e está na primeira série. Para a garantia da bolsa é preciso freqüentar e passar pela avaliação no final do projeto. A avaliação também é diferente, não é uma prova, é uma avaliação. O aluno fará uma redação, que contará 50% dos pontos, ou seja, ele está se esforçando, ele está tentando. E aí entra o papel do professor, que na verdade é um orientador. A redação pode estar horrível, mas na pontuação não pode ser zero como outro que não entregou. O papel do professor é elevar o cara. Ele [o aluno] cumpriu a meta, da melhor maneira que podia. Então se trabalhará para que a “melhor maneira” seja ampliada. Aquele que não entregou [a redação] é outra proposta, a gente tem que trazer o cara para o comprometimento, o outro já está comprometido. Aí, o papel do professor é tratar um diferente do outro. Não existe zero, existe participação, atividade, proposta…
 
OJ – Mas tem um terceiro caso, se ele chega ao final do curso e não atinge aquilo que o projeto estabeleceu como mínimo. Na hipótese de o jovem não lograr o mínimo, ele poderá se inscrever no PJ no ano seguinte?
P. Veiga –
Confesso, sinceramente, que não sei, nunca tinha pensado na possibilidade dele não concluir, muito difícil ele não concluir. A proposta do programa é muito otimista, de que todo mundo vai concluir. Justamente porque o tratamento é diferenciado, então você avalia também, é lógico que existe um mínimo…
 
OJ – Há, então, um mínimo objetivo que é a freqüência, esse mínimo…
P. Veiga –
Não, tem um mínimo também de conhecimento, só que não é comparativo. Há um limite estabelecido tanto para o avaliador quanto para o programa do que é o mínimo que este sujeito tem que apresentar para poder ganhar um certificado do Ensino Fundamental, mas não é comparativo, ou seja, você não dá 5 para um porque o outro tirou 10, os 2 podem tirar 10 dependendo da capacidade de cada um, por isso é que viabiliza ser uma coisa muito diferenciada, então, no colégio é comparativo, você pega a melhor prova e a pior prova, uma é 0 e a outra é 10, o resto está na escala.
 
OJ – Qual a estrutura curricular?
P. Veiga –
Português, matemática, inglês, ciências humanas e ciências naturais. Ciências humanas: geografia e historia. E “ciências naturais” é mais ou menos a tia do colégio, aquela que dava aula de ciências, que dava química, física e biologia. A proposta é que ele saia no final deste ano apto a entrar no 2º grau. Primeiro porque ele vai estar fresco. Normalmente, na maioria dos casos neste perfil, você tem um buraco entre o Ensino Fundamental e o 2º grau. O cara não entra direto, às vezes fica 3, 4 anos sem estudar para entrar. 
 
OJ – Está havendo alguma perspectiva de articulação, no caso do Rio de Janeiro, com o governo do estado para que se faça a progressão para o Ensino Médio?
P. Veiga -
Esta é uma proposta do governo federal que está pensando nisto enquanto federação. A proposta é pensar federativamente, ou seja, que o projeto tenha articulação com o estado e com o município. Vê-se claramente no Rio a participação da sociedade civil, de empresas para absorver este mercado. A idéia é que o programa seja articulado nacionalmente, que o jovem tenha a chance de continuar o ensino.
 
OJ – Então, esta articulação com o governo do estado não será uma tarefa do município.
P. Veiga  –
Não, não é. É uma tarefa de todos na verdade.
 
OJ – E que pode ser de ninguém!
P. Veiga –
É, que pode ser de ninguém, a gente tem aí a clareza das dificuldades, mas os objetivos rompem as questões de partido, de oposição, de não relacionamento, isso é no âmbito político. Quando chega no operacional a gente executa parceria.
 
OJ – Quantas vagas foram oferecidas até agora e quantos jovens já se inscreveram?
P. Veiga –
A gente está na metade da meta inicial, com 15.000 e alguma coisa, o último dado que eu tenho fechou ontem (29/09) ao meio-dia. Fechou ontem em 15.600, está exatamente na metade da meta inicial: 30.150. A gente fez 15.000 [inscrições] em 15 dias. Se continuar assim, daqui a 15 dias, que é o prazo final, estaremos com os 30.000. Mas há oscilações, fim de semana ninguém se inscreve.
 
OJ – A que você atribui a menor procura, em relação à oferta de vagas?
P. Veiga –
É que, na verdade, e isso acontece em diversos projetos e em políticas públicas, ele [beneficiário] não vê a solução, olha mas não enxerga. Não percebe, por exemplo, que ter o Ensino Fundamental é fundamental mesmo. Quando se chega em um nível muito complicado de vida passa-se a viver o dia-a-dia, o imediatismo, o cara não consegue planejar para um mês, não sabe o que vai acontecer em 1 mês. Jovem a gente sabe que tem, a gente sabe que as comunidades estão lotadas, você vê meio-dia um monte de gente à toa. Isso é outra coisa, o projeto foi pensado para ser executado de dia, a gente sabe que é uma inviabilidade. Na verdade se a gente faz um projeto deste de dia, você está prejudicando o jovem, ele deixa de poder trabalhar. [No Rio de Janeiro] o programa será à noite.
 
OJ – O PJ está recebendo outras duas fortes críticas, que são a precariedade de alguns espaços e a provisoriedade do próprio programa, que nasce como emergência e com data para acabar. Como é que você vê isso?
P. Veiga –
Dos espaços posso te dizer que no Rio a gente tem a maior rede de assistência social do Brasil, é maior que São Paulo. Há, na assistência social, 50 equipamentos de grande porte, o Rinaldo de Lamare [CEMASI – Centro Municipal de Assistência Social Integrada] é um equipamento da assistência social, já atendeu 1 milhão e 300 mil pessoas, assim a gente muda esta questão da precariedade. Tem equipamento de grande porte que comporta 6 estações [de Juventude], não tem estação em associação de moradores. Tem estação no Rinaldo de Lamare, no barracão do Talentos da Vez, CIAD, equipamentos de altíssima qualidade.
 
OJ – Está havendo casamento entre o início do programa e a chegada dos recursos do governo federal?
P. Veiga –
Não há problema com a chegada do recurso, o maior nó hoje é resolver o computador, não é mole comprar 20.000 computadores. Só no Rio são 2.000. Abre licitação, faz, acha que está tudo bem, mas não, o cara [empresa] que perdeu entra com recurso processando o cara que ganhou, aí pára a licitação. Então, a expectativa deles [governo federal] é ter os computadores mês que vem [outubro], a minha é janeiro de 2006.
 
OJ – Estes computadores estarão todos conectados à internet? A responsabilidade da conexão é de vocês? Existe capacidade para isso?
P. Veiga –
São conectados à internet nas escolas. A responsabilidade é nossa. Temos capacidade sim. Na verdade a gente está priorizando colocar nas escolas que não tem laboratório, pois houve interesse nosso em colocar o PJ onde não havia laboratório. Onde já tinha laboratório, a gente ampliou. Acabando o programa os computadores ficam, então ocorre ampliação da capacidade do município de incluir digitalmente, na sua rede [de escolas] como um todo. Ela tem capacidade de conexão, nem que seja acesso discado.
 
OJ – Por que o PJ foi planejado para acontecer durante apenas 1 ano?
P. Veiga –
Ele é um projeto de meta cheia, o governo federal parte do princípio de que em determinado município existe determinado número de jovens com esse perfil e aí ele dá essa meta cheia, para atender todos os jovens que precisam do PJ, em função disso depois de um ano ele pode acabar, já atendeu todo mundo.
 
OJ – Mas parte do pressuposto que a “fábrica” que gera esses jovens excluídos da escola vai parar?
P. Veiga –
Outro papel do governo federal é o combate à evasão escolar, à não inclusão escolar.
 
OJ – Você acha que isto está articulado?
P. Veiga –
É uma meta, a idéia é que se pare de produzir jovens com este perfil. O PJ vem na verdade para dar o muro, até aqui atendi, agora vou trabalhar este aqui, para parar de ter que atender ali. É um programa emergencial, é um programa de meta cheia e com prazo determinado para acabar. É claro e cristalino que o professor que não entender isso não pode dar aula para este jovem. Porque a princípio, se ele não entender isso, esse jovem vai sair do PJ pelo mesmo motivo que ele saiu da escola na 4ª série, porque não consegue entender, porque o cara [professor] não consegue explicar. Outra coisa é compreender a proposta pedagógica de sala de aula, qual é o conteúdo que deve ser passado. Não é o conteúdo todo, como já se falou, é o essencial. A proposta não é dar 4 anos de escola em 1 ano, é você pinçar de 4 anos o que é fundamental. Se o professor não entender isso vai ficar querendo dar o mesmo conteúdo que dava na 4ª, na 5ª série.
 
OJ – Mas os conteúdos de aula já estão mais ou menos definidos, não é? Na verdade o PJ é um programa nacional com alto grau de centralização do ponto de vista administrativo e dos conteúdos. Como fica isso? Qual o campo de autonomia que o município tem para executar o PJ?
P. Veiga –
Tem as propostas alternativas. Em matemática, por exemplo, o que o jovem aprende aqui ele aprende em Recife, a mesma coisa. Já geografia não, tem a realidade da cidade. Você tem, por exemplo, o jovem que aprende turismo no Rio de Janeiro e tem que aprender um conteúdo de uma forma diferente do que aprende em Recife. Aqui tem o Pão de Açúcar e lá não tem, falando bem rasamente. Não é só isso, os conceitos de turismo também são diferentes, lá tem muito mais um turismo regional do que no Rio de Janeiro, que é mundial, vem gente do mundo inteiro. Então, os conceitos e teorização são passados para o professor na formação dele.
 
OJ – Ainda que haja um caderno nacional?
P. Veiga –
É, o caderno nacional é do conteúdo. Um ladrilheiro tem que aprender a colocar ladrilho aqui e em Recife, mas ele tem que entender que no Rio ele vai usar cimento e em Recife ele vai usar barro, por exemplo. Então, são estas peculiaridades que parecem ser pequenas, mas que fazem completa diferença. 
  
OJ – Por que a prioridade na contratação para professores aposentados da rede pública municipal de ensino?
P. Veiga –
A decisão é nossa, não é do programa. Primeiro você pega um profissional que você sabe que tem um histórico de sala de aula. Segundo é combater também o preconceito e a dificuldade do aposentado de continuar a trabalhar. A segunda prioridade é ser da rede municipal, pois atende ao mesmo princípio, é um professor que tem as habilidades necessárias para dar aula. Os professores foram selecionados através de exame de currículo, seleção, pré-seleção na hora da inscrição. [Secretaria Municipal de] Educação, [Secretaria Municipal de] Assistência e [Secretaria de] Governo fizeram a banca de seleção que deu nota aos currículos. Saiu o resultado hoje, os 20 primeiros são classificados, os 8 primeiros são selecionados, o resto vai pro banco. Então, a instituição que é responsável [através de parceria com o município pela execução do programa] tem o dever de convocar e entrevistar os 40 professores da sua estação [a partir da seleção inicial feita pela prefeitura]. São 25 estações, 40 professores em cada e ao todo 1.000 professores. A gente deu contratualmente toda a liberdade de trocar o cara [professor], se chegar no meio e perceber que não está correspondendo, capacita e troca, como às vezes acontece no colégio, você contrata o cara achando que ele é um bom professor. A gente vai ter um fluxo maior, mas é melhor você trocar e perder um pouco, do que ficar com este cara até o final do ano e perder tudo.
 
OJ – E a formação desses professores?
P. Veiga –
Tem um mês de capacitação para ser professor do PJ, não basta ser professor de geografia, ele não estará dando aula para um garoto de 11 anos, mas sim para um cara de 20, que é aliciado pelo tráfico, tem 2 filhos, já perdeu os pais, é outro negócio. Então, tem que se preparar para isso. Tem um mês intenso de capacitação e ele recebe para isso, não é o salário, mas recebe uma bolsa-auxílio de R$600.
 
OJ – Como foi o processo de seleção das organizações parceiras?
P. Veiga –
A gente chamou por convite público, se apresentaram 42 [organizações] com proposta técnica, ou seja, a organização tem que dizer como é que vai executar o que o PJ manda. O cara não pode dizer que não quer dar aula de geografia, que “na minha estação não vai ter aula de geografia” ou “na minha estação não vai ter ação comunitária”, isto não existe. É pegar o que o governo federal mandou e a proposta do que eu vai se fazer extra, como se vai trabalhar com estes jovens, que atividades vão ser feitas. O fundamental é o notório saber que a organização tem desta comunidade. Ou seja, quem vai executar no Rinaldo de Lamare é o cara que sabe da Rocinha, que sabe do Vidigal. Isto faz a diferença e foi o que mais pesou entre uma [organização] e outra, a instituição tem que apresentar o que sabe sobre a comunidade. Ela faz a proposta, uma banca pública, composta só por servidores, examina. Isso tudo foi publicado em DO, com clareza.
 
OJ – A experiência na área da juventude foi fator que pesou na seleção das organizações selecionadas para executar o PJ?
P. Veiga –
Foi um fator, mas não determinante. Quase todas elas já executaram algum projeto de juventude. Aí, por exemplo, você tem uma instituição que nunca executou projeto de juventude, mas tem notório saber na área de capacitação, principalmente construção civil. A estação que ela vai administrar é a estação temática de construção civil, isso é outra diferença que tem no município, a gente tem estações temáticas.
 
OJ – Como está o calendário do PJ?
P. Veiga –
Este é um problema, esta é a maior dor de cabeça. Era para começar em agosto, aí ninguém começou, a gente viu que não dava, aí era setembro, a gente viu que não dava, então outubro. Tem uma calma muito grande no município, porque o governo federal já pagou 10 das 25 Estações da Juventude. E tem uma pressa muito grande do governo federal, mas o secretário costuma dizer, no bom sentido, que a gente está fazendo algo muito artesanal. A inauguração no Rio deve ser na quadra da (Escola de Samba) Acadêmicos da Rocinha. Estarão lá os jovens que estarão iniciando naquele momento – vão ganhar a camisa do governo federal dando as boas-vindas – mais a gente, o prefeito... Ainda não tem o dia exato, mas deve ser uma semana antes do dia 24 [de outubro], que é quando começam as aulas.
 
 
O Projovem no Rio de Janeiro:
São 25 Estações Juventude
Cada Estação tem 8 núcleos
Cada núcleo tem 5 turmas
Cada turma tem de 25 a 30 alunos/as
Total: 1200 alunos por Estação
 
Meta para o Rio de Janeiro: 42.150 jovens, número definido pelo Governo Federal a partir de dados da PNAD, IBGE.
 
Participaram da entrevista pelo Observatório Jovem/UFF: Ana Karina Brenner, Julia P. Zanetti e Paulo Carrano

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