O jovem baiano Lio Nzumbi, ativista do MNU – Movimento Negro Unificado, articulador da Campanha Reaja ou Será Mort@, será um dos palestrantes do ENJUNE, mediando a Roda de Discussão sobre Segurança, Vulnerabilidade e Risco Social. Em entrevista ao site do ENJUNE, Lio fala sobre a política de segurança nacional e o atual estágio da violência racial no Brasil
Quais são suas expectativas sobre a realização do ENJUNE?
Acredito que o ENJUNE é um momento ímpar onde a juventude negra vai ter a oportunidade de articular demandas frente ao poder público, além de fortalecer os elos que façam das instâncias de juventude negra, pessoas e militantes, um bloco coeso frente ao poder branco e a investida de extermínio.
Como você analisa os desdobramentos do processo de violência racial que acontece no Brasil?
Nós do Reaja ou será Mort@ estamos a algum tempo dizendo que existe um genocídio, ele não é algo por acaso, se trata de ações apoiadas pelo estado, quando não são promovidas pelo estado através da mão da polícia, elas são permitidas, toleradas, como é o caso dos grupos para-militares, os grupos de extermínio ou o estado através de uma “omissão”, com muitas aspas.
Trata-se de um processo que é sistematicamente organizado. Nestas últimas semanas diante dos fatos ocorridos no Rio de Janeiro, o caso da mulher que foi espancada por playboys por ter sido confundida com uma prostituta, assim como também a policia vêm recrudescendo as suas forças através de um novo esquadrão, que é esta da força de segurança nacional. É a força de segurança para combater o que eles chamam de crime organizado, mas o combate pressupõe a intensificação da violência racial nos bairros de periferia, como é o caso da proposta da redução da maioridade penal.
O atual modelo de segurança pública é visto de que maneira pela juventude negra atuante no Reaja na Bahia?
Nós estamos rediscutindo novos rumos porque acreditamos que não é possível ficar olhando um governo posar de popular, de esquerda e democrata, as forças que estão alinhadas com os anseios do povo, enquanto na realidade a mesma estrutura que diz respeito à segurança pública, não somente da manutenção dos cargos de chefia da polícia, mas estou me referindo também a própria política de segurança, os bairros do subúrbio, por exemplo, estão sendo aterrorizados, foi no governo de Wagner que estamos acompanhando esse esquema lá de Maracangalha, até hoje tem gente morrendo na cidade.
No governo estadual atual estamos acompanhando também a criminalização do movimento contra a violência racial em Salvador, como a Campanha Reja ou ser Mort@. Isso é uma baixa política, o estado se movimenta também no sentido de reprimir e de enfrentar todos aqueles que ameaçam um perigo real, eu acredito que todo jovem negro de periferia é um inimigo do estado. E agora isso se mantém de uma forma mais veemente porque existe uma alusão de que estamos num governo popular, democrático, mas que, no entanto, mantém a violência racial com a mesma intensidade.
Um dos objetivos do ENJUNE é construir diretrizes de intervenção nas políticas públicas de juventude. Como você analisa este propósito?
Sim, o ENJUNE vai construir uma postura da juventude negra organizada em todos os âmbitos do poder instituídos, nacional, estadual e municipal. Isso envolve dizer para o Ministério da Justiça que a juventude negra está com os dentes trincados que não vai observar os nossos serem aniquilados e ver isso de uma forma banal. Esta conjuntura que devemos estar pleiteando em todos os âmbitos do poder instituído.
Que soluções você aponta para a emancipação da juventude negra?
A emancipação da juventude negra consiste em reunir os esforços da própria juventude negra para a superação daquelas barreiras colocadas pelo Projeto Brasil que está pautado em nosso genocídio, um Projeto Brasil que exporta mísseis, aviões a jato, mas que, no entanto, não é capaz de viabilizar oportunidades de vida digna para nossa juventude. Acreditamos que agora através do ENJUNE nós possamos congregar algumas forças da juventude negra organizada para a superação dessas barreiras que o genocídio nos impõe, a emancipação da juventude negra pressupõe além de mais um elo de articulação da África Continental e da Diáspora e da consolidação de bloco políticos que sejam autônomos economicamente, politicamente e a criação de alternativas de poder que estejam para além de partidos, ong’s, sindicatos das instâncias do poder branco que sempre nos mantiveram como reféns.
Quais os pontos que a juventude negra tem priorizado na discussão sobre a violência?
Aqui na Bahia e em alguns pontos do Brasil, nós estamos reagindo muito aos estímulos, há algum tempo a Campanha Reaja tem colocado se as nossas comunidades e as nossas organizações comunitárias não se organizarem para fazer um enfretamento à violência racial, nós vamos estar sempre fazendo assim, reagindo a estímulos. Não é apenas necessário fazer uma análise de conjuntura ampla para saber qual é o quadro, o quadro não é diferente, é o mesmo de 500 anos atrás, só que agora vestido sob a cara de um governo popular e democrático. Agora mesmo estamos priorizando a redução da maioridade penal, com a Campanha Reaja, uma articulação nacional contra a redução racista da maioridade penal, porque os jovens que estarão sendo penalizados serão jovens negros e negras.
Assim como estamos encampando a luta contra o regime disciplina diferenciado, o regime de cárceres que estão superlotando as prisões de corpos de homens e jovens negros, como também encampamos a discussão pela descriminalização do aborto.
Entrevista retirada do BOletim do ENJUVE - Encontro Nacional de Juventude Negra
www.enjuve.com.br