Contemplado com uma bolsa Cientistas do Nosso Estado, professor da UFF mostra que é possível fazer muito com os recursos recebidos
Observatório Jovem 03.06.2005
Boletim da Faperj - Contemplado com a bolsa Cientistas do Nosso Estado da FAPERJ, o professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF) Paulo Carrano vem demonstrando como o bom uso dos recursos pode gerar bons e múltiplos resultados. O trabalho de Carrano – Juventude e Poder Local na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, financiado pela FAPERJ e pelo CNPq – integra o estudo nacional Juventude, Escolarização e Poder Local, desenvolvido por uma rede de pesquisadores em nove regiões metropolitanas do Brasil , coordenada nacionalmente por Marilia Spósito, da USP, e Sergio Haddad, da PUC-SP.
Um dos resultados do trabalho de Carrano foi lançado em maio: o documentário de 71 minutos em DVD Jovens no Centro, dirigido por Marcelo Brito e exibido pela primeira vez no auditório da Faculdade de Educação da UFF, em Niterói. O filme é parte da pesquisa de Carrano, que credita à FAPERJ a viabilização do documentário.
“Com os recursos que recebemos mensalmente da FAPERJ, pudemos não só realizar a pesquisa como comprar uma câmera e pagar toda a produção do filme”, relatou o professor. A boa utilização dos recursos também possibilitou que o projeto organizasse cursos na área de cinema para a formação de bolsistas de iniciação científica. “Dessa forma, atendemos um princípio básico do fomento à pesquisa: formar e qualificar profissionais”, observou.
As filmagens para o documentário foram feitas entre outubro de 2004 e fevereiro de 2005 durante a fase qualitativa de estudo de caso. Foram colhidos depoimentos de jovens de um Centro da Juventude em Niterói que enfrentam as dificuldades de desenvolver atividades culturais num espaço público mantido com poucos recursos.
O Centro da Juventude foi um programa lançado pelo Governo Federal junto às prefeituras de todo o país. Em Niterói, foi instalado em 1999 no Centro Social Urbano de um bairro popular – a Ilha da Conceição. Em 2000, o Governo Federal deixou de repassar os recursos e o município assumiu a iniciativa.
Apesar das dificuldades, os jovens fazem do espaço um lugar de aprendizagem e convivência social. Em seus depoimentos falam de relacionamentos com o poder público, amigos, familiares, professores e também sobre dimensões do cotidiano escolar, familiar, religioso e de suas expectativas de futuro. Alguns dos jovens entrevistados levam o espectador a conhecer outros espaços significativos em suas vidas.
A pesquisa
A pesquisa sob coordenação de Paulo Carrano, no entanto, é mais abrangente. Em seu relatório preliminar, o pesquisador caracteriza a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, seus antecedentes históricos, sua dinâmica político-partidária, aspectos demográficos e territoriais, bem como dados sobre jovens de 15 a 24 anos de idade.
O educador também descreve e analisa dados produzidos durante o processo de investigação, realizado entre 2003 e 2004 por uma equipe de pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFF. Os dados foram colhidos a partir de formulário estruturado e aplicado nacionalmente junto a gestores de políticas públicas e coordenadores de programas de juventude em nove regiões metropolitanas.
Na Região Metropolitana do Rio, a primeira fase da pesquisa percorreu os 20 municípios que a compõem. Foram identificados 125 programas, projetos ou eventos que tinham os jovens como foco principal. De acordo com Carrano, as metrópoles podem ser consideradas como centro da vida social, econômica, cultural e política da sociedade contemporânea. “Há uma verdadeira interdependência entre economia, política e ação social na constituição do tecido metropolitano”, explicou.
Paulo Carrano espera que a pesquisa contribua para evidenciar os desenhos, processos e conteúdos institucionais que permitam perceber o estado atual do relacionamento das políticas públicas com os jovens da região metropolitana do Rio. “Ainda que o foco da investigação não tenha recaído sobre a juventude em sua dimensão de identidade e ação social, os dados permitem perceber como o relacionamento entre os jovens e o espaço público influencia na dinâmica social urbana”, disse.
O pesquisador afirma que, a rigor, não existem políticas públicas de juventude na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Ele considera que as ações são desprovidas de dotações orçamentárias compatíveis com as demandas. “Constatamos que, no período da pesquisa, as equipes técnicas e agentes de implementação dos programas eram em número insuficiente. Em geral, também eram despreparados para as atividades. Dessa forma, as ações não seriam capazes de causar impactos regionais duradouros e de qualidade”, concluiu o pesquisador.
Publicado no Boletim da Faperj - 02.06.2005