Entre dez países, Brasil é o que tem a maior proporção de jovens entre os desempregados
Estudo do Ipea mostra que melhora no mercado de trabalho nos últimos anos foi menor entre aqueles que têm entre 15 e 24 anos
Em 2005, os jovens representavam 46,6% do total de desempregados, um
patamar superior ao de países como México (40,4%) e Argentina (39,6%).
Segundo o estudo, não apenas a taxa de desemprego dos jovens no Brasil
cresceu ao longo dos últimos 15 anos como ainda avançou mais do que a
taxa de desemprego dos trabalhadores adultos."Os jovens representam uma proporção cada vez maior dos desempregados", diz o estudo.
De acordo com Roberto Gonzalez, pesquisador do Ipea, uma das hipóteses
que justificam a maior dificuldade dos jovens para ingressar no mercado
de trabalho é o preconceito das empresas em relação aos trabalhadores
menos experientes. "O mercado de trabalho melhorou no Brasil nos
últimos anos, mas a melhora foi menor entre os mais jovens, o que
justifica a necessidade de políticas públicas para tentar assegurar o
lugar desses trabalhadores no mercado", disse.
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)
corroboram a percepção de que, de fato, ficou mais difícil para o jovem
de 15 a 24 anos encontrar trabalho.
Segundo Cimar Pereira, gerente da PME (Pesquisa Mensal de Emprego), a
participação dos jovens no total de desempregados nas seis maiores
regiões metropolitanas do país passou de 45,7% em março de 2002 para
46,8% em março deste ano. Em março de 2002, 22,9% da população em idade
ativa tinha de 15 a 24 anos. Em março deste ano, esse patamar caiu para
19,4%. "Houve um aumento claro da desocupação nessa faixa etária",
resume.
O desemprego entre jovens não é um problema restrito ao Brasil. Nos
países europeus, a taxa de desemprego dos jovens começou a crescer nos
anos 1980. Nos anos recentes tem havido uma pequena reversão desse
fenômeno, motivada tanto pelo menor desemprego juvenil como pela
redução da população economicamente ativa nestes países.
Para o Ipea, a demissão dos trabalhadores mais jovens é de menor custo
em razão do valor das indenizações. Além disso, são normalmente menos
experientes e considerados "menos essenciais" para as empresas. Há
também aspectos como a alta rotatividade característica dessa etapa da
carreira.
"Como o jovem, por definição, está tendo suas primeiras experiências no
mundo do trabalho, seria "normal" que ele circulasse por vários
empregos como forma de acumular conhecimentos e experiência, supondo-se
que mais tarde isso contribuiria para ele estabilizar-se em uma
ocupação determinada", afirma o estudo.
Para Lígia Cesar, da MCM Consultores, um dos fatores que dificultam a
entrada dos jovens no mercado é a rigidez das leis. "Isso prejudica o
acesso do trabalhador com menos experiência. Do ponto de vista do
empregador, ele tem de arcar com um custo alto para contratar alguém
com menos experiência do que os demais."
A taxa de desemprego entre os jovens no Brasil foi estimada pelo Ipea
em 19% em 2005, um patamar superior ao de anos anteriores. Em 2000, o
percentual era de 18% e, em 1995, de 11%. Segundo o Ipea, a alta taxa
de desemprego mesmo na faixa abaixo de 17 anos indica que grande parte
das famílias não tem meios de manter os jovens fora do mercado de
trabalho até a conclusão do ensino médio.
"O que acontece para a maioria dos jovens de famílias trabalhadoras e
de baixa renda é que eles ficam circulando entre ocupações de curta
duração e baixa remuneração, muitas vezes no mercado informal. Além de
não favorecer a conclusão da educação básica, essa experiência é, na
maior parte das vezes, avaliada negativamente pelos empregadores."
O estudo conclui que políticas de emprego não devem apenas ser julgadas
pela capacidade de colocar o jovem em um posto de trabalho, mas devem
também avaliar até que ponto a experiência de trabalho permite adquirir
novos conhecimentos. "É fundamental que políticas de emprego
desenvolvam estratégias destinadas a romper, e não a reforçar, as
barreiras sociais que se colocam frente a estes jovens", diz.
Publicado em 21/05/08
Pelo jornal Folha de São Paulo, por Antônio Góis e Janaína Lage