A pluralidade da juventude pode ser vista em uma única pessoa, que, nessa faixa etária, participa de diferentes espaços e tem diferentes papéis nos grupos pelos quais circula. Agora, imagine quantas diferenças são encontradas ao ouvir 1800 jovens espalhados pela América do Sul
Nos dias 25 e 26 de junho foi lançada no Rio de Janeiro a pesquisa "Seis demandas para a construção de uma agenda comum”, coordenado pelo Instituto Brasileiro de Análise Social e o Instituto Pólis, em parceria com organizações sociais e universidades. A pesquisa contou com o apoio do International Development Research Centre – IDRC. O colóquio ocorrido no Clube de Engenharia contou com a presença de pesquisadores brasileiros e de outros países da América do Sul participantes. A finalidade do evento foi expor os resultados e experiências pessoais dos pesquisadores envolvidos.
No dia 25, foi traçado o cenário nacional da pesquisa. As falas trataram das experiências e visões dos jovens envolvidos em ações coletivas ouvidos pela pesquisa. No segundo dia, o colóquio se dividiu nas seguintes mesas: “Educação e trabalho: velhas demandas, novas conexões?”, “Mais cultura e mais mobilidade: o que querem os(as) jovens Sul-americanos(as) do séc.XXI?”, “Direitos Humanos e meio ambiente: gramáticas globais podem expressar demandas juvenis locais?”.
A pesquisa foi realizada com base em diversos instrumentos metodológicos, enfatizando entrevistas e grupos focais. As atividades envolveram cerca de 815 participantes, em seis países. As entrevistas foram feitas, sobretudo, com jovens de organizações e movimentos juvenis. Entretanto, também foram ouvidas pessoas adultas que exercem funções relacionadas à juventude, como funcionários e funcionárias de órgãos públicos, especialistas acadêmicos, líderes sindicais, professores, professoras, diretores e diretoras de escolas. Cada uma das 19 situações-tipo apresenta seu próprio per.l de entrevistados(as), recurso e ferramentas metodológicas específicas. Em alguns casos, houve a utilização de formas diferentes de pesquisa, como a observação participante em manifestações promovidas por jovens.
O estudo pretende servir de base para a elaboração de políticas públicas voltadas para os jovens, que constituem 20% a 25% da população local. Seu relatório demonstra a esperança de incentivar o reconhecimento dos jovens e dos grupos juvenis como agentes decisivos do processo de integração dos Povos da América do Sul.
Segundo a pesquisa, os jovens são as maiores vítimas das pressões sofridas na América do Sul, tanto pelos governos autoritários com suas frágeis transições para a democracia quanto pela dependência estrangeira e diferenças sociais ampliadas pelas políticas neoliberais.
As experiências sociais de indivíduos e coletivos precisam ser relacionadas com as dimensões regional, nacional, continental e planetária da vida social. Os países pesquisados foram Argentina, Bolivia, Brasil, Chile, Paraguay e Uruguay.
Como encontrar as demandas comuns a estes jovens?
Demandas estas que divergem em muitos pontos, segundo o pesquisador José Roberto Novaes, que participou da pesquisa “6 demandas para uma agenda comum” no Brasil. Os pedidos que os jovens migrantes cortadores de cana fazem dizem respeito a um banheiro na roça, algo bem diferente de pedidos como “acesso à produção cultural” comum nos centros urbanos.
Segundo a pesquisadora Helena Abramo, hoje em dia ao se falar de juventude, a educação é a única meta que já aparece como direito garantido dos jovens. É a única que constrói um consenso, por isso a primeira demanda identificável. “Direito que garante os outros direitos”. Porém, para os jovens ouvidos não existe mais a opção “educação OU trabalho”, para eles é “educação E trabalho”.
Ana Karina Brenner representou o Observatório Jovem na pesquisa ouvindo jovens da Fórum de Juventudes da cidade do Rio de Janeiro. O Fórum de juventudes tem como principal objetivo discutir políticas públicas de juventude porém o espaço tem sofrido com a dicotomia de seus integrantes. O Fórum se divide em dois grupos, que, segundo a pesquisadora, têm tido pouco contato, um grupo é formado por jovens e o outro por adultos e lideranças. Para a pesquisadora, a falta de comunicação entre esses grupos faz o fórum se estagnar em certos posicionamentos.
Jovem trabalhar é direito?
Na pesquisa a questão do trabalho aparece como elemento importante na transição da juventude para a vida adulta, como componente fundamental na formação da experiência, na localização no mundo e na formação de redes de contato. Assim, aparece, também, como aspiração e componente estratégico na demanda por inserção social.
O trabalho vem em segundo plano por não ser tão discutida a questão dos jovens dentro do mercado. Não se chega ao consenso se é melhor retardar a entrada do jovem no mercado ou se é melhor que este tenha uma inserção facilitada por ter mais dificuldade devido à falta de experiência. Mas já é notado no discurso dos jovens que a experiência profissional é importante para a formação assim como os estudos.
A identidade que se faz em torno dos jovens inseridos no mundo do trabalho se faz presente tanto no sertão, com os cortadores de cana, quanto com a população urbana de São Paulo, do sindicato dos empregados no tele-marketing. As condições que envolvem trabalhar sob forte pressão trazem à tona a dificuldade de estudar após um dia de exaustivo trabalho.
O pesquisador Maximo Quisbert, da Bolívia, pesquisou o movimento das trabalhadoras do Lar, da Bolívia. Movimento que começou no início dos anos 90. Segundo a pesquisa, elas vêem o emprego como fase transitória, cuja finalidade é o estudo. Mas, o que mostra a pesquisa é que muitas vezes a volta ou a entrada para o mundo estudantil é dificultada pela precoce inserção no mercado.
E quem não está na cidade...
No meio rural, entram os direitos ambientais. Jovens paraguaios rurais expressam negativamente o impacto da agricultura mecanizada de alta tecnologia. O aumento da produção, principalmente da soja transgênica, intensifica o uso da terra, o que aumenta o preço do lote e torna cada vez mais distante a idéia de uma reforma agrária. Com demandas tão diferentes, como direitos ambientais e acesso a transporte, uma identidade juvenil camponesa se faz necessária pelos movimentos rurais para a construção de uma agenda de lutas comum.
O ir e vir como cultura
Outro direito que não é visto como algo inerente à juventude no senso comum é o acesso à fruição e à produção cultural. Tendo a cultura como forma de expressão, os jovens travam a luta por visibilidade. Demanda muito notável no movimento hip-hop identificada pelos pesquisadores Rosilene Alvim e Adjair Alves na ação cultural de jovens de Caruaru – Pernambuco.
A apropriação do espaço da cidade e do campo pelos jovens ainda gera muito debate entre grupos juvenis. Alguns defendem o passe livre para todo e qualquer jovem, outros já dizem ser este um direito apenas do estudante. A demanda por circulação e mobilidade dá aos jovens o acesso aos direitos sociais. O direito à circulação garante o acesso à educação, ao trabalho, à cultura, e ao lazer, por isso tal demanda não pode ser dissociada das outras.
Leia os relatórios nacionais, os relatórios das situações-tipo no Brasil e o relatório final na íntegra.
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