Juventude está mais vulnerável aos impactos causados pelas desigualdades econômicas e sociais do País
Nº 27 - Jun/Jul de 2005
O Brasil tem o maior contingente de jovens de sua história. Diante de um cenário tão desafiador, a presente edição do Conversa Afiada traz dados das principais características desta população. Com a intenção de auxiliar na construção de pautas e matérias que coloquem em foco aspectos da desigualdade social e econômica do País, apresentamos diversos índices de desemprego, escolaridade, mortalidade, incidência da Aids e da gravidez entre esse segmento etário.
Para o sociólogo Paulo Carrano, do Observatório Jovem da Universidade Federal Fluminense, dentro do quadro global de desigualdades no Brasil, os cidadãos de 18 a 24 anos são especialmente vulneráveis. "A desigualdade se revela mais fortemente entre os jovens das famílias de menor renda, os menos escolarizados, os jovens negros e, em especial, as mulheres jovens. Num recorte etário, são os que têm entre 18 e 24 anos os mais desprotegidos por se encontrarem ainda à margem do sistema produtivo e sem políticas públicas que os ajudem a se integrar", afirma.
A boa notícia é a maior participação dos jovens na definição dos rumos de suas vidas, avalia Carrano. Mas em vez de compromisso com um futuro distante, o engajamento juvenil ocorre em causas do presente relacionadas com o corpo, a sexualidade, o simbólico e a solidariedade. "Ao falarmos em participação juvenil, não mais devemos ter em mente um bloco homogêneo portador de um projeto único de futuro e de ação coletiva. A juventude ainda pulsa, porém os fluxos e sentidos são múltiplos"
Quantos são?
No Brasil existem cerca de 35 milhões de jovens entre 15 e 24 anos, o equivalente a 20% da população País, com equilíbrio entre homens e mulheres
Como vivem?
• 4,2 milhões (12,2%) em famílias com renda per capita de até ¼ de salário mínimo
• 6,8 milhões (20,1%) em famílias com renda per capita entre ¼ e ½ salário mínimo
• 9 milhões (26,4%) em famílias com renda per capita entre ½ e 1 salário mínimo
• 14,1 milhões (41,3%) em famílias com renda per capita acima de 1 salário mínimo
Qual a cor ou raça?
•17 milhões (50%) brancos
•16,4 milhões (48%) negros
•2% indígenas ou de cor amarela ou não declarada
Onde vivem?
• 10,5 milhões (31%) em Regiões Metropolitanas
• 17,7 milhões (52%) em Áreas Urbanas Não- Metropolitanas
• 5,9 milhões (17%) em Áreas Rurais
Quais as suas atividades?
Do total de jovens de 15 a 17 anos
• 60,9% só estudam
• 21,4% estudam e trabalham
• 7,7% só trabalham
• 7% realizam afazeres domésticos
• 2,9% nenhuma atividade.
Do total de jovens de 20 a 24 anos
• 11,7% só estudam
• 15,1% estudam e trabalham
• 47,7% só trabalham
• 20,6% realizam afazeres domésticos
• 4,9% não realizam nenhuma atividade
O que está na mente dos jovens?
Assuntos que mais lhes interessam
• Educação: 38%
• Trabalho: 37%
Problemas que mais os preocupam
• Violência: 55%
• Emprego: 52%
EDUCAÇÃO
A taxa de escolarização dos jovens de 15 a 17 anos aumentou cerca de 33% nos últimos dez anos, atingindo 82,4%, em 2003. A principal causa deste movimento é o aumento das exigências do mercado de trabalho, segundo o IBGE.
Ainda assim é grande o número dos que não estão estudando (17,62%). O principal motivo para o abandono da escola nesta faixa etária é o surgimento de uma oportunidade de trabalho (para 25% dos meninos) e a gravidez (para 25% das meninas), segundo pesquisa desenvolvida pela Unesco.
Segundo Leonardo de Castro Pinheiro, pesquisador da entidade, o aumento na taxa de escolaridade nos últimos anos pode ser explicado pela implementação de políticas públicas que asseguram vagas no Ensino Fundamental para os adolescentes. Por outro lado, nem sempre o ambiente escolar está preparado para receber esse novo contingente de alunos, o que resulta em frustração e não-continuidade nos anos posteriores. "Muitos concluem o Ensino Fundamental sem saber ler nem escrever e, por isso, acabam não indo em frente", afirma Pinheiro.
Quantos estudam?
• 16,2 milhões freqüentam a escola
• 17,2 milhões não freqüentam a escola
Quantos estão fora da escola ou em defasagem idade-série?
Recorte por regiões:
No Brasil, 62,2% dos estudantes entre 18 e 24 anos não haviam concluído o Ensino Médio.
• Norte: 76,9% (população rural não incluída)
• Nordeste: 78,1%
• Sudeste: 53%
• Sul: 45,6%
• Centro-Oeste: 57,4%
Qual o nível educacional?
• 1,2 milhão (3,8%) são analfabetos
• 12,9 milhões (39%) não concluíram o Ensino Fundamental
• 4,5 milhões (13,7%) concluíram o Ensino Fundamental
• 5,7 milhões (17,4%) tinham começado o Ensino Médio, mas não haviam concluído
• Somente 6,6 milhões (19,8%) tinham concluído o Ensino Médio
• 2,1 milhões (6,2%) cursaram pelo menos um ano de Ensino Superior
Analfabetismo
1,2 milhão (3,6%) de jovens analfabetos
• 70% vivem no Nordeste
• 73% são negros
TRABALHO
Os altos índices de desemprego explicam a grande preocupação dos jovens pelo assunto. Mesmo quando o interesse dessas pessoas é com a sua formação educacional, isso também está relacionado à obtenção de um bom emprego. De acordo com Marcelo Pereira da Costa, co-coordenador da Rede Youth Employment Summit no Brasil, quanto menor a condição financeira da família do jovem, mais ele dará importância ao assunto. A autonomia financeira e a elevação da auto-estima também estão entre as razões que colocam o trabalho no centro dos interesses juvenis. Segundo Costa, outro ponto a ser considerado é que o trabalho está diretamente ligado à questão da identidade. "As pessoas se reconhecem pela profissão que exercem", assinalou. Entretanto, é grande o número de jovens que se encontram inadequados para o mercado de trabalho. Segundo a PNAD, 63% da população entre 18 e 24 anos ainda não concluíram o Ensino Médio.
Quantos trabalham?
• 17,2 milhões (52%) estavam ocupados
• 3,8 milhões (11%) estavam desempregados
Quanto ganham por mês?
• 14% ganham até ½ salário mínimo
• 24,2% ganham mais de ½ até 1 salário mínimo
• 18,7% ganham mais de 1 até 1,5 salário mínimo
• 11,5% ganham mais de 1,5 até 2 salários mínimos
• 15,7% ganham mais de 2 salários mínimos
Quantos estão em atividade formal?
Dos 17,2 milhões de jovens ocupados em 2002:
• 10,5 milhões (61%) tinham entre 20 e 24 anos
• Apenas 6 milhões (36%) estavam em empregos formais
Jovens sem emprego (gênero/renda/cor)
• 2 milhões (53%) são mulheres
• 1,2 milhões dos jovens com renda familiar per capita de até ¼ de salário mínimo não trabalham e não estudam
• 71% dos jovens que não trabalham e não estudam e possuem renda familiar per capita de até ¼ de salário mínimo são negros
Desemprego
•71% dos jovens que não trabalham e não estudam e possuem renda familiar per capita de até ¼ de salário mínimo são negros 8
• A taxa de desemprego dos jovens de 18 a 24 anos (17%) era o dobro da taxa nacional (9%)²
SAÚDE
Quantos vivem com Aids?
Segundo a Organização das Nações Unidas, 37,8 milhões de pessoas vivem com o vírus HIV, sendo que 10 milhões são jovens entre 15 e 24 anos. No Brasil, os dados do último Boletim Epidemiológico de Aids, do Ministério da Saúde, revelam que a epidemia está em processo de estabilização. Entretanto, os patamares ainda são elevados. Em 2003, foram diagnosticados 32.247 novos casos e, entre esses, 8,8% em jovens de 13 a 24 anos.
Casos de Aids no Brasil
|
1998 |
2003 |
Total |
31.622 |
32.247 |
Jovens (13 – 24 anos) |
3.283 |
2.845 |
Homens |
1.770 |
1.398 |
Mulheres |
1.513 |
1.447 |
Número de pessoas com HIV
• Mundo – 37,8 milhões
• Brasil – 600 mil
Gravidez de adolescentes
Idade da mãe |
Número de Partos |
10 a 18 anos |
491.611 |
10 a 14 anos |
27.239 (5,54%) |
15 a 18 anos |
464.372 (94,46%) |
Mortes por gravidez
• De cada 100 mil pessoas, cerca de duas a três meninas, entre 15 e 19 anos, morrem por causas relacionadas a gravidez, parto e puerpério. Esta é a terceira maior causa de morte entre meninas, superada apenas por acidentes de trânsito e homicídios. 7
• Óbitos Femininos entre 15 e 19 anos (gravidez, parto, puerpério) em 2003: 2,497
Região de origem das mães
de 10 a 14 anos:
• 37,6% - Nordeste
• 26,8% - Sudeste
• 16% - Norte
• 10,9% - Sul
• 8,1% - Centro-Oeste
de 15 a 18 anos:
• 35,5% - Nordeste
• 31,6% - Sudeste
• 13,6% - Norte
• 11,4% - Sul
• 7,7% - Centro-Oeste
VIOLÊNCIA
Entre a população não jovem (0 a 14 e a cima de 25 anos), apenas 3,3% dos óbitos em 2002 eram resultados de homicídios. Já entre os jovens, os homicídios foram a causa de 39,9% das mortes.
Em 1997, a taxa de mortes entre os jovens por homicídio era 44,3 (a cada cem mil). Em 2002, esse índice subiu para 54,7.
Em 2002, 93,8% de todos os óbitos de jovens por homicídios foram do sexo masculino.
Exclusão Racial e Regional
Entre os jovens,a exclusão atinge diretamente os negros, e segunda análise do Ceafro, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), as altas taxas de desemprego e de subemprego entre os jovens negros e negras, assim como a ausência de projetos de vida, têm como custo final a violência letal. Todos os anos esta combinação vem consumindo a vida de 40 mil pessoas, 96% não-brancas, com baixa escolaridade e idade entre 15 e 24 anos, conforme relatório da ONU de 2004.
Regina Novaes, da Secretaria Nacional de Juventude, ressalta que os preconceitos e discriminações são reproduzidos em todos os âmbitos de convivência do jovem. Isto faz com que o acesso a educação e emprego se realize de maneira diferenciada. "Raça, etnia e região são retroalimentados cosntantemente em contextos em que se trata os desiguais de foram pretensamente igualitária", lamenta.
Causas de óbitos de adolescentes de 15 a 19 anos
Causa |
Nº absoluto |
Taxa em 100 mil |
% |
Homicídios |
7.949 |
42,2 |
40,7 |
Acidentes de transporte |
2.891 |
15,4 |
14,8 |
Gravidez |
249 |
2,6 |
1,2 |
Suicídio |
658 |
3,5 |
3,3 |
Notas Estatísticas
1-Censo Demográfico 2000 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
2-Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), em 2003, referente a jovens de 15 a 24 anos.
3-Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), em 2002, referente a jovens de 15 a 24 anos, exceto os da área rural da Região Norte, incluindo Tocantins.
4-Dados da pesquisa O Perfil da Juventude Brasileira – dezembro de 2003 – Instituto Cidadania.
5-Report on the Global Epidemic, 2004 – Organizações das Nações Unidas.
6-Boletim Epidemiólogico de Aids, 2004 – Programa Nacional de DST e Aids.
7-Ministério da Saúde, 2003.
8-Mapa da Violência IV – Os Jovens do Brasil – UNESCO, 2002.
9-Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde.
Guia de Fontes:
Geral:
Secretaria Nacional de Juventude
Regina Novaes – Secretária-Adjunta
(61) 3411-1160
regina.novaes@planalto.gov.br
Observatório Jovem/UFF
Paulo Carrano – Sociólogo
(21) 9666-5276 – 2629-2707
p.carrano@globo.com
Unesco
Ana Lúcia Guimarães – Assessora de Comunicação
(61) 2106-3500
ana.guimaraes@unesco.org.br
Unicef
Rachel Mello – Oficial de Comunicação
(61) 3035-1947 - rmello@unicef.org
PNUD- Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
Ana Três – Assessora de Comunicação
(61) 3038-9109 - registry@undp.org.br
Ipea – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
Enid Rocha – Técnica de Planejamento e Pesquisa da Diretoria de Estudos Sociais
(61) 3315-5358 - enid@ipea.gov.br
Secretaria Especial dos Direitos Humanos
Marina Spínola – Assessora de Comunicação
(61) 3429-3498 - marina.castro@sedh.gov.br
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Paulo Vitor – Coordenação de Comunicação Social
(21) 2142-0882 - www.ibge.gov.br
Conanda – Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente
José Fernando da Silva – Vice-Presidente
(81) 3301-5241 - fernando@cclf.org.br
Grupo Interagir
Renata Florentino
(61) 3036-9675 - renata@interagir.org.br
Ceafro – Educação e Profissionalização para a Igualdade Racial e de Gênero
Vilma Reis - Coordenadora
(71) 3321-2580 - www.ceafro.ufba.br
Saúde:
Ministério da Saúde
Mônica Correa da Silva – Assessora de Comunicação
(61) 3315-2351
monica.csilva@saúde.gov.br
Programa Nacional DST/Aids
Nara Anchises - Assessora de Comunicação
(61) 3448-8100 - nara.anchises@aids.gov.br
Núcleo de Estudos de Violência Contra a Criança e o Adolescente da Sociedade de Pediatria de São Paulo
Luiz Laerte Fontes - Assessor de Imprensa
(11) 3284-9809/0308 - pediatria@spsp.org.br
Reprolatina (atuação em adolescência e direitos sexuais reprodutivos)
Francisco Cabral – Coordenador do Programa Vivendo a Adolescência
(19) 3289-1735 - www.reprolatina.org.br
Regina Bueno - Coordenadora de projetos
Grupo Pela Vidda
(21) 2518-3993 - www.pelavidda.org.br
Trabalho:
YES Brasil (movimento de promoção do emprego juvenil)
Marcelo Costa – Co-Coordenador
(41) 3223-5733 - www.yesbrasil.info
Ministério do Trabalho e Emprego
Gladys Andrade – Diretora do Departamento de Políticas de Trabalho e Emprego para a Juventude
(61) 3317-6516 - gladys.andrade@mte.gov.br
Organização Internacional do Trabalho
Luiz Carlos Ferreira – Diretor Adjunto
(61) 2106-4603 - brasilia@oitbrasil.org.br
Instituto Votorantim
Renato Ribeiro – Coordenador de Projetos Sociais Sênior
(11) 2132-7641 - renato.santos@votorantim-cimentos.com.br
Educação:
Ação Educativa
Sérgio Haddad – Secretário Executivo
(11) 3151-2333 r. 120 - acaoeduca@acaoeducativa.org
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação - FNDE
José Mardovan - Coordenador Geral de Programas e Projetos Educacionais
(61) 3212-4965 - eja@fnde.gov.br, info@futuro.usp.br
Ação Educativa
Sérgio Haddad – Secretário Executivo
(11) 3151-2333 r. 120 - acaoeduca@acaoeducativa.org
Cláudia Maria Souza - Psicopedagoga
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Edição: Carina Paccola e André Camargo
Apuração e redação: Danilo Farias, Eduardo Garcês, Camila Rabelo, Maria Silvia Bembom, Tabajara Guedes
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