Gostaria de fazer alguns comentários sobre a entrevista do Prof. Paulo Carrano, concedida ao Instituto Souza Cruz... A entrevista me encaminha a seguinte reflexão: de fato, as políticas públicas têm sido "ineficientes" para favorecer o ingresso dos jovens no mercado (não precário) de trabalho. Mas têm sido "eficientes" na medida em que vão ao encontro da atual lógica de acumulação de capital e da lógica neoliberal de tratar a questão social, marcada pela pobreza
Em primeiro lugar, quero parabenizá-lo pela riqueza dos dados e a pela forma brilhante como analisa o contexto em que se dá o desemprego juvenil.
A entrevista me encaminha a seguinte reflexão: de fato, as políticas públicas têm sido "ineficientes" para favorecer o ingresso dos jovens no mercado (não precário) de trabalho. Mas têm sido "eficientes" na medida em que vão ao encontro da atual lógica de acumulação de capital e da lógica neoliberal de tratar a questão social, marcada pela pobreza. Não por casualidade o resultado dos milhares de pequenos programas e projetos esporádicos, descontínuos e dispersos têm resultado, de uma maneira geral, na inserção de jovens (e também de adultos e idosos) de forma AINDA MAIS precária no mundo do trabalho.
Num contexto em que, com a acumulação flexível, o emprego com direito sociais torna-se carta fora do baralho, a contribuição da grande maioria das ONGs tem sido no sentido de fazer "animação cultural" para incutir no jovem o espírito do “empreendedorismo juvenil”, ou seja, o espírito de ter iniciativa e criatividade para inventar o trabalho por contra própria, conseguir se virar sozinho no mercado, tornando-se o "patrão de si mesmo".
Já não está mais na moda falar em “educação para a empregabilidade”, mas em “educação para o empreendedorismo”. Sem dúvida, a baixa escolaridade dificulta que os jovens possam COMPETIR entre si por uma vaga no mercado. No entanto, embora o direito à Educação Básica deva ser assegurado, ela não pode ser entendida como a "galinha dos ovos de ouro". A escola nunca foi a solução para os males sociais.
Em síntese, penso que, ao longo da história, as políticas públicas têm sido apenas um paliativo para aliviar os efeitos perversos da política econômica !!!.
Por fim, queria registrar que também considero o cooperativismo e outras formas associativas uma possibilidade de trabalho que tem como base um novo tipo de sociabilidade . Para semear a perspectiva de que trabalho associativo não se confunda com "empreendedorismo" e tampouco seja útil às cadeias produtivas requeridas pelo capital, poderia ser muito interessante se os jovens conseguissem se organizar em torno do movimento da economia popular solidária, em âmbito regional e nacional.
Para ser forte e para que possa vingar como alternativa de trabalho, as iniciativas associativas não podem se dar de forma isolada. Com isto estou querendo sinalizar que o trabalho associativo precisa sair das quatro paredes da organização econômica, tomar as ruas, sair mundo a fora levando a bandeira de uma cultura do trabalho que se contraponha à lógica do capital. Além de estratégia de trabalho e de sobrevivência, o associativismo é uma forma de luta e, ao mesmo tempo, uma forma da gente ir ensaiando, desde já, uma "sociedade dos produtores livremente associados" (na verdade, é isso que desejo e acredito !!!)
Obrigada a todos vocês do Observatório Jovem que nos propiciam tanta reflexão e desejo de ação. Um abraço, Lia Tiriba.
Lia Tiriba é doutora em Educação, professora do Programa de Pós-Graduação em da UFF e integrante do NEDDATTE/UFF (Núcleo de Estudos, Documentação e Dados sobre Trabalho e Educação)