Os reitores das universidades de São Paulo e do Haiti expuseram as barreiras
da educação em seus países
CARTAGENA, Colômbia - Enquanto o Brasil ganha dez mil novos
médicos por ano, no Haiti
mais de um milhão de crianças entre seis e 12 anos não podem ingressar à escola
básica, revelaram nesta sexta-feira, 6, reitores de universidades dos dois
países em uma conferência sobre educação realizada na Colômbia
No encontro, os acadêmicos disseram que o Brasil luta há anos por
descentralizar a educação superior e o Haiti tenta empreender uma batalha que
impeça a "fuga de cérebros" em um país com uma das mais baixas taxas de
escolaridade.
Os reitores das universidades de São Paulo e do Haiti, Suely Vilela Sampaio e
Jacky Lumarque, respectivamente, expuseram as barreiras e fragilidades da
educação em seus países.
Suely e Lumarque participam em Cartagena, norte colombiano, da Conferência
Regional para Educação Superior (CRES) 2008, realizada desde quarta-feira, 4, e
que termina nesta sexta, 6.
A reitora da Universidade de São Paulo assinalou que o Brasil "investiu muito
na formação de médicos" e se declarou convencida de que é preciso "transformar
esse conhecimento em riqueza para melhorar a qualidade de vida da
população".
Porém, se queixou também que, no Brasil, acontece a fuga de cérebros, mas que
há uma legislação que estimula o retorno dos estudantes.
A reitora também se declarou partidária de estabelecer na região um "ranking"
para "mostrar ao mundo a qualidade" das universidades brasileiras.
O professor Lumarque, após reconhecer as "singularidades" de seu país,
admitiu que há "desafios enormes não só em educação superior" e explicou que "o
país não foi capaz de assegurar a oferta de direito de bem público" nem sequer
no ensino primário. "É um desafio enorme. O Estado se caracterizou por essa
deficiência enorme na oferta educativa" e em muitos casos está em mãos privadas,
disse Lumarque.
Segundo o acadêmico do Haiti, boa parte do número de instituições de educação
superior é privada, mas há deficiência de regulação do Estado por falta de um
marco legal. "Por exemplo, o Ministério da Educação não pôde credenciar mais de
20% das escolas privadas e isso também é um desafio maior", se lamentou o
acadêmico haitiano. Lumarque denunciou que "80% dos profissionais mais
qualificados deixam" o país, a maioria rumo ao Canadá.
A reunião de Cartagena, que é preparatória da conferência mundial de educação
superior que será realizada em 2009 em Paris, contou com a participação de cerca
de 3.500 delegados, 25 ministros e vice-ministros de Educação, reitores e
dirigentes de instituições de ensino superior.