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“A internet no diálogo entre universidade e sociedade”

No lançamento da nova página eletrônica do Observatório Jovem, pesquisadores falam sobre as experiências e possibilidades da internet na produção e divulgação de conhecimentos

O Observatório Jovem lançou no dia 18 de julho a nova página eletrônica e o documentário “Sementes da Memória”. Após a exibição e debate sobre o filme, foi realizada a mesa “A internet no diálogo entre universidade e sociedade”. O coordenador do Observatório Jovem, Paulo Carrano, Lívia Di Tommasi, da Rede de Juventude do Nordeste, e o representante do Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (Clam), João Francisco Lemos, conversaram sobre como a internet pode possibilitar a troca e socialização de conhecimentos e ainda atuar de forma a pôr em contato atores sociais.

 Paulo Carrano apresentou a trajetória da página do Observatório Jovem. Ele contou que no início era quase um blog no qual disponibilizava textos que eram solicitados. O projeto de mídia evoluiu para uma página eletrônica que acaba de ser reformulada com a utilização de um software livre. “Pensamos a página  como canal de escoamento da produção da universidade, mas ao mesmo tempo, um canal onde um novo conhecimento fosse gerado, a partir do encontro entre atores da universidade e dos movimentos sociais”, explica. 

Carrano fala também da experiência em lidar com tempos diferentes de produção – o da universidade, dos agentes sociais e dos agentes de políticas públicas.  “As pesquisas duram cerca de dois, três anos. Mas a universidade não pode abrir mão dessa lentidão necessária para  produzir um conhecimento mais maduro. A página do Observatório é canal  desse conhecimento lento, da informação mais rápida da notícia jornalística e do tempo ainda mais veloz dos movimentos sociais. É a síntese dos três tempos”, comenta.

Ele explica ainda que atualmente a vocação principal da página é estabelecer diálogo com os diversos pesquisadores da juventude que atuam em diferentes partes do país e dar visibilidade às produções – textos, teses, dissertações e relatórios – desses atores acadêmicos. “A página está aberta, é uma construção coletiva e deve ser utilizada por todo mundo que queira contribuir para isso”.

Lívia Di Tommasi contou a experiência com listas de discussão na internet. A Rede de Juventude da qual participa tem uma lista própria que atua de forma a organizar o movimento da rede. Uma outra lista de discussão – Construindo Teias – é responsável por debater temas e sistematizar ações. A última, de acordo com Lívia, é bastante diversa e reúne atores juvenis com características diferentes, como a juventude dos partidos políticos, ongs, movimentos de hip hop e outros grupos.

Apesar de apostar na necessidade da internet para organizar movimentos que extrapolem o local, principalmente em um espaço geográfico de grandes proporções como o brasileiro, a pesquisadora vê a necessidade de encontros presenciais. “Se não há esses momentos, as listas se perdem. É importante até mesmo para olhar no olho”, diz. 

Outra questão abordada por Lívia Di Tommasi se refere à inclusão digital. “A internet é democrática, mas precisamos lembrar que por falta de acesso físico ou hábito, às vezes, não funciona. No nordeste, os jovens não têm tanto acesso à rede, a universidade é um dos únicos espaços que garantem essa possibilidade”, alerta. 

A pesquisadora cita também a necessidade de qualificação das discussões que ocorrem nas listas e a dificuldade da organização para que o movimento seja propositivo e não apenas de oposição a políticas diversas.

Para Lívia, os movimentos de jovens não podem ser  taxados como fracassados ou de sucesso, visíveis ou não. “A juventude tem tempos diferentes, se organizam em grupos pequenos e invisíveis na maioria das vezes”, detalha. Ela critica a tentativa de institucionalizar os grupos de jovens e afirma que a universidade deve ter um papel diferenciado nesse processo. “A universidade deve fazer a leitura desses pequenos mundos, sem a tentativa de homogeneizá-los”.

João Francisco Lemos contou um pouco da história do Clam. O Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos, do Instituto de Medicina Social da Uerj, foi criado em 2002 com o objetivo de reunir e tornar públicos estudos relacionados aos temas que dão nome ao centro. Cinco países participam do Clam. A internet funciona como veículo entre os núcleos de estudo do Brasil, Argentina, Chile, Peru e Colômbia.

A idéia da página eletrônica, segundo João Francisco, é mesclar jornalismo com pesquisa científica de maneira simples e acessível. “Está na hora do saber sair da universidade”, aponta. No entanto, ele afirma também que uma grande preocupação é a de que o ato de tornar acessível não resulte em perda de conteúdo. “Queremos qualificar o olhar sobre esses assuntos”, completa.

 As novidades publicadas na página do Clam – estudos, pesquisas e notícias – chegam a 14 mil pessoas por meio de uma mala direta. A pedido do Ministério da Educação (MEC), o centro está se dedicando também à capacitação de professores pela internet com o curso Gênero e Diversidade na Escola.  “Só é possível produzir isso tudo quando você perde a postura da universidade de produzir conhecimento apenas para ser publicado ou para as bibliotecas”, conclui  João Francisco Lemos.

 A mesa A Internet no diálogo entre universidade e sociedade foi capaz de traduzir o próprio espírito que move o Observatório Jovem – a interação entre a produção de conhecimento acadêmico, a transmissão desse saber e os jovens ou pessoas  próximas à juventude. Nesse sentido, Paulo Carrano, João Francisco Lemos e Lívia De Tommasi representaram essas interfaces e tiveram a oportunidade de aprofundarem a rede de cooperação entre elas.