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‘Nota 10’ para proposta do MEC

Especialistas e estudantes aprovam novo modelo de ensino médio formulado por ministério

Depois de apresentar uma proposta para substituir os vestibulares tradicionais das universidades federais por um modelo unificado, o Ministério da Educação (MEC) entregou um projeto de reforma do currículo do ensino médio. A ideia é flexibilizar a organização da grade, permitir que o aluno possa escolher algumas das disciplinas, além de aumentar a carga horária e incluir atividades práticas na rotina escolar. Para especialistas, o MEC acertou em cheio com a nova proposta, por mais que ela enfrente dificuldades para ser implantada nos estados.

Segundo o professor da Universidade de Brasília (UnB), Remi Castione, por exemplo, as propostas apresentadas pelo MEC são importantes porque colocam o ensino médio no foco das atenções. – Essas mudanças tendem a mudar o enfoque do ensino médio que nos últimos anos perdeu matrículas e tornou-se uma etapa desinteressante – avalia. Segundo Castione, o atual modelo, voltado à preparação dos alunos para vestibular, traz prejuízos à formação do jovem. – É uma discussão muito pobre no campo da educação. Por que o jovem vai aprender o que são as mitocôndrias? Aquilo tem muito pouco efeito prático na vida dele.

Castione avalia que o acordo entre o ministério e os estados deve partir primeiro da discussão do modelo de ensino médio que o país quer construir. O professor acredita que o papel indutor dessas mudanças deve ser do ministério. Mas para dar condições aos estados para mudar o cenário atual, a pesquisadora Ana Paula Corti, especialista em ensino médio, aponta para a necessidade de incrementar o orçamento da rede pública de ensino.

– O esforço do MEC terá de ser enorme, a pactuação com os estados precisa ser muito bem articulada. É preciso pensar no apoio técnico e também no financeiro condizente com uma proposta dessa envergadura – afirma Ana Paula, que também lembra que os jovens devem ser convocados para participar da construção do novo modelo. – Você só constrói uma escola de qualidade se você consegue entender quais são os interesses que esse sujeitos estão vivendo. Qual educação interessa para ele?.

Ana Paula ressalta que, por mais interessante que seja a ideia do MEC, ela não é nova. A reforma curricular de 1998 já organizava o currículo em grandes áreas do conhecimento e previa algumas das medidas propostas pelo MEC. Mas o modelo não vingou porque não havia previsão de operacionalização.

–Uma reforma curricular não se faz só com uma carta de princípios pedagógicos, mas pensando na operacionalização disso, ou seja, como esses princípios se traduzem em uma organização escolar diferente da que temos hoje. Qualquer reforma que não pense nessa dimensão da realidade das redes escolares, não funciona. É preciso pensar em uma reforma real, para escolas reais que estão envolvidas em redes públicas reais – diz. Ana Paula avalia que é preciso alterar a própria organização do sistema, desde a formação dos professores nas universidades até a contratação pela secretaria de educação.

–Por exemplo: em tese, a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) prevê a diversificação curricular, a escola poderia dar aula de teatro. Mas as escolas não tem professor de teatro, nem concurso público. Aí ela atribui aulas de português – explica.

Inovações
A possibilidade de o aluno do ensino médio escolher parte das disciplinas que quer estudar, flexibilizando o currículo desta etapa, anima a maior parte dos estudantes secundaristas. O projeto, chamado de "ensino médio inovador ", está em discussão no Conselho Nacional de Educação (CNE), colegiado responsável por elaborar diretrizes curriculares.

Além da possibilidade de o aluno escolher as disciplinas que complementam as básicas, está previsto que o atual modelo da grade curricular, dividido em 12 disciplinas tradicionais, seja dividido em eixos mais amplos como linguagens e ciências humanas. Outra mudança é o aumento da carga horária de 2,4 mil para 3 mil horas/ano e a inclusão de atividades práticas para complementar o aprendizado. O projeto também sugere que programas de incentivo à leitura estejam previstos na nova organização. Outra orientação é valorizar atividades artísticas e culturais dentro do currículo. O CNE vai realizar audiências públicas para discutir o novo modelo de ensino médio e o processo deve ser concluído até julho. Depois dessa etapa, o ministério começará as negociações com os estados, já que o ensino médio é responsabilidade das redes estaduais.

A estudante Esther Arraes Drigati, que cursa o 3° ano em um colégio particular de Brasília, resume o que pensam vários alunos do ensino médio. – A gente estuda muita coisa que não vai precisar – diz. Pesquisas do próprio ministério demonstram que o atual modelo é desinteressante para os jovens, o que aumenta a evasão e diminui o tempo do brasileiro nos bancos escolares.

Para Rosa Lúcia Nascimento, professora de História de uma escola pública de Brasília, a possibilidade de um currículo flexível, montado a partir das prioridades do aluno, é fantástica. – O ensino médio hoje ficou inserido como etapa conclusiva do ensino fundamental. Ele se torna desinteressante porque a gente não consegue aproximar os conteúdos da realidade deles – avalia a professora, ressaltando a necessidade de investimento na formação continuada dos professores para que o novo modelo dê certo. (ABr)

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