Os estudantes com idade entre 15 a 17 anos também se destacam, com cerca de 560 mil registros
Segundo os dados coletados pelo Censo Escolar da Educação Básica 2005, os alunos na faixa etária de 18 a 24 anos são maioria na Educação de Jovens e Adultos presencial de ensino fundamental, totalizando mais de 925 mil matrículas. Os estudantes com idade entre 15 a 17 anos também se destacam, com cerca de 560 mil registros. E os alunos das faixas etárias de 25 a 29 anos, de 30 a 34 anos e de 35 a 39 anos, da mesma forma, têm grande participação nesta modalidade de ensino: com 487.723, 405.607 e 345.261 matrículas, respectivamente.
Assim como ocorre na Educação de Jovens e Adultos presencial de ensino fundamental, os jovens com idade entre 18 e 24 anos também são maioria na EJA presencial de ensino médio. No total são 552.456 estudantes dessa faixa etária, matriculados. Já os alunos da faixa etária de 25 a 29 anos são, ao todo, 223.798, superando os grupos com idades entre 30 e 34 anos (160.084) e 35 a 39 anos (120.587).
As informações coletadas pelo Censo Escolar da Educação Básica 2005 demonstraram que a participação de homens e mulheres na Educação de Jovens e Adultos (EJA) presencial é praticamente a mesma, com ligeira vantagem para elas, de quase 4,5 mil matrículas. Ou seja, do total de 4.619.409 matrículas registradas na EJA Presencial no ano passado, 50,05% são de estudantes do sexo feminino e 49,95% são do sexo masculino.
Os alunos que se consideram pardos são praticamente 42% do total de 4.619.409 matrículas registradas na Educação de Jovens e Adultos presencial, em 2005. Os brancos representam quase 25% e os alunos que não declararam sua raça/cor, 19,8%. Já os que se consideram negros são 11,5% dos matriculados, enquanto os amarelos são 1,16% e os indígenas, 0,76%. Ver Gráfico 4. Este item do Censo Escolar da Educação Básica é coletado por meio de uma pergunta feita aos próprios alunos ou a seus pais, os quais respondem livremente, sem a interferência de professores ou de dirigentes escolares.
O Censo Escolar da Educação Básica 2005 revelou que, em 2004, houve 1.245.967 alunos concluintes na Educação de Jovens e Adultos (EJA) presencial. Deste total, 24,74% (308.207) pertenciam ao ensino fundamental de 1ª a 4ª série, 40,73% (507.473) ao ensino fundamental de 5ª a 8ª série e 34,53% (430.287) ao ensino médio.
Do total de 259.853 funções docentes existentes na Educação de Jovens Adultos, 72,61% são ocupadas por professores com nível superior completo, sendo 67,28 com licenciatura, 3,66% sem licenciatura mas com magistério e 1,67% sem licenciatura e sem magistério. As funções docentes ocupadas por professores com ensino médio completo estão mais concentradas nas classes de EJA do ensino fundamental (1ª a 4ª série e 5ª a 8ª série) e as ocupadas por professores que sequer possuem o ensino fundamental completo são praticamente inexpressivas, uma vez que representam apenas 0,11% do total.
Publicado no Informativo do INEP, Ano 4, Nº138, em 6 de junho de 2006
Dirigentes jovens revelam bandeiras que impulsionam a organização juvenil
Juventude está mais vulnerável aos impactos causados pelas desigualdades econômicas e sociais do País
No Brasil, 28% dos jovens estão engajados em algum grupo ou associação; desafio é incentivar essa participação
Pauta ANDI -13/04/2006
A poucas semanas do encerramento do prazo para tirar título de eleitor para as eleições de outubro, estimular o primeiro voto entre os jovens de 16 e 17 anos parece um desafio. Afinal, há um sentimento dominante de que os jovens são apáticos em relação à política.
Verificar a percepção dos jovens sobre participação política foi um dos objetivos da pesquisa Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas, realizada pelo Ibase (Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas) e Pólis (Instituto de Estudos, Formação e Assessoria em Políticas Sociais). Foram ouvidos, entre julho de 2004 e novembro de 2005, oito mil jovens de 15 a 24 anos em sete regiões metropolitanas (Belém, Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo), além do Distrito Federal.
De acordo com a pesquisa, há um exagero quando se denuncia a “apatia juvenil” sem levar em conta que a crise de participação cidadã atinge todas as faixas etárias da população.
Participação juvenil
Entre os jovens entrevistados, 28% têm algum engajamento em grupos ou associações, sejam ligados a igrejas, partidos políticos, instituições ou movimento estudantil.
Embora 28% possa ser considerado um índice baixo, a socióloga Anna Luiza Souto, do Instituto Pólis, afirma que essa percentagem é valiosa se comparada à faixa dos adultos. “Estudo da Criterium, de São Paulo, revela que entre os adultos esse índice é de 19%”, disse ela, que foi coordenadora-adjunta da pesquisa e apresentou o resultado no Fórum Social Mundial, em janeiro, na Venezuela.
Importância da política
O levantamento Jovens eleitores: consciência e participação na política desenvolvido pelo Instituto Cidadania na Região Metropolitana de São Paulo, em 2004, junto a 240 adolescentes de 15 a 17 anos, mostra que, para 84% dos entrevistados, a política é importante e interfere no dia-a-dia. E mais de 90% disseram que acompanham os fatos políticos: 45% desses, pela televisão.
Desafio
No Fórum Social Mundial, durante seminário que debateu os anseios e possibilidades de envolvimento político das novas gerações, foi apresentado que existe uma semelhança sobre a participação dos jovens na América Latina: um quarto deles tem algum engajamento político.
Para Oscar D’Ávila, da área de participação juvenil da ONG CIDPA (Centro de Investigação e Difusão Populacional de Achupallas), do Chile, “o desafio é fazer com que os outros três quartos de jovens passem a participar”.
Também foi discutido o papel do Estado na promoção do aumento da participação dos jovens na política. Segundo Jorge Escobar, da associação Viva la Ciudadania, da Colômbia, isso deveria ser uma obrigação constitucional. “O problema é que os jovens raramente são chamados para opinar e quase nunca para decidir”, disse.
Desencanto
Além de entrevistar 8 mil jovens, a pesquisa do Ibase e do Pólis fez Grupos de Diálogo com 913 jovens, entre março e maio de 2005. Desses, 64% disseram que não acreditam que os políticos representem os interesses da população. No Distrito Federal, a descrença é ainda maior: mais de 80% não crêem nas boas intenções dos políticos.
De acordo com o relatório da pesquisa, houve no DF um número maior de recados dos jovens voltados para a cobrança de responsabilidades, posturas éticas, honestidade, dignidade, não-corrupção dos governantes, dentro outros. O fato de Brasília concentrar os poderes políticos ajuda a explicar porque os Grupos de Diálogo do DF tenham mais críticas relacionadas à pouca credibilidade nos políticos e à necessidade de renovação dos governantes e das formas de fazer política.
A estudante de Ciências Sociais da Universidade de Brasília Renata Florentino, da ONG Interagir, afirma que é bastante simbólico que os jovens da capital federal sejam os mais críticos. “Os jovens valorizam a política, mas como estão mais perto do poder, eles acompanham mais facilmente o desempenho dos políticos e vêem que não funciona. Justamente por isso, buscam outras formas de participação”.
Título de eleitor
Jovens que vão votar pela primeira vez nas eleições gerais de outubro têm até o dia 3 de maio para requerer inscrição eleitoral. Este também será o último dia para solicitar transferência de domicílio eleitoral. Essas regras valem apenas para as eleições deste ano, em que serão eleitos o presidente da República, governadores, senadores e deputados federais.
O voto é obrigatório para maiores de 18 anos e facultativo para os maiores de 16, de 70 anos e aos analfabetos. Para obter o título, é preciso ir ao Cartório Eleitoral mais próximo do endereço de moradia e preencher o requerimento de alistamento eleitoral. É necessário levar certidão de nascimento ou carteira de identidade ou passaporte e comprovante de residência. A inscrição é gratuita.
Pauta política
Esta é a segunda de uma série de quatro pautas sobre participação dos jovens no processo eleitoral. As publicações de Mídia Jovem podem aproveitar o prazo para registro eleitoral para incentivar seus leitores a se inscrever para votar em outubro e a buscar informações sobre os candidatos e suas propostas.
Fontes:
Instituto Cidadania
Helena Abramo – socióloga (11) 3836-5621
www.institutocidadania.org.br
Instituto Pólis
Anna Luiza Souto – socióloga
(11) 3258-6121 – polis@polis.org.br - www.polis.org.br
Ibase
Itamar Silva – coordenador-geral da pesquisa
(21) 2509-0660 – ibase@ibase.org.br - www.ibase.br
ONG CIDPA - Chile
Oscar D’Ávila – área de participação juvenil - oscar@cidpa.cl
www.cidpa.cl
Viva la Ciudadania – Colômbia
Jorge Escobar – diretor regional em Bogotá
regionalbogota@vivalaciudadania.org - www.vivalaciudadania.org
ONG Interagir (jovens)
Renata Florentino – estudante (61) 3036-9675
Unicef
Rachel Mello – Oficial de Comunicação
(61) 3035-1947 – rmello@unicef.org
O Museu Histórico Abílio Barreto mostra produção fotográfica realizada por jovens moradores das favelas de Belo Horizonte que vem na contramão da grande mídia, dando uma visão de dentro das favelas para a cidade
Jovens de periferia apresentam outros olhares fotográficos
Carta Maior - 28/06/06
O Museu Histórico Abílio Barreto mostra produção fotográfica realizada por jovens moradores das favelas de Belo Horizonte que vem na contramão da grande mídia, dando uma visão de dentro das favelas para a cidade.
Coletivo de parcerias promove mostra fotográfica para estimular novas e diferentes ações na produção de sentido através das imagens; e ampliar o mercado para jovens marginalizados.
Na contramão das lentes teleobjetivas da mídia e dos olhares piedosos, as favelas de Belo Horizonte serão mostradas por enquadramentos e luzes vistos por quem vive na comunidade. É a mostra coletiva de fotografias “Outro Olhar”, que o Programa Fica Vivo! apresenta para convidados nesta quarta-feira, 28 de junho, no Museu Histórico Abílio Barreto. Depois, a mostra torna-se itinerante pelas comunidades.
O evento comemora também a formação de jovens no curso de fotografia realizado pelo Senac Minas em parceria com o programa Inclusão Produtiva, da Secretaria de Estado de Defesa Social. Eles aprenderam no início deste ano, técnicas e práticas sobre o olhar e o fazer fotográfico, com o fotógrafo Rogério Costa.
A proposta do evento é apresentar um olhar juvenil de dentro da periferia para a cidade e, principalmente, apresentar à própria comunidade, imagens que valorizem a auto-estima dos moradores já que a exposição torna-se itinerante posteriormente.
Na comunicação educativa, o fazer fotográfico expressa uma importância fundamental na produção de valores e significados sobre si e sobre o outro, na forma de participação e interesse social, num olhar original sobre grupos sociais e indivíduos, além do meio que os cerca.
Como comunicação midiática, a produção fotográfica pode abrir espaço para a expressão de uma camada marginalizada da sociedade, fortalecendo a diversidade cultural ao ampliar a produção e consumo de bens e valores culturais da sociedade.
Para a realização da exposição, dezesseis jovens mobilizaram-se em incursões fotográficas onde vivem para a produção coletiva de um ensaio fotográfico sobre sete comunidades participantes do Programa Fica Vivo! (Alto Vera Cruz, Cabana Pai Tomás, Conjunto Felicidade, Morro das Pedras, Pedreira Prado Lopes, Ribeiro de Abreu e Taquaril).
Com o apoio da Universidade Pontifícia Católica de Minas Gerais, as fotos foram realizadas com câmeras profissionais em filmes PB e selecionadas por eles no laboratório de fotografia da Faculdade de Comunicação e Artes. A revelação dos filmes foi produzida pela fotógrafa e coordenadora do laboratório, Marta Carneiro, que acompanhou o desenvolvimento do ensaio.
Durante o evento, uma projeção de fotografias vai contar ações do Fica Vivo! ao longo dos três anos do programa. O DJ Easy, produtor cultural e diretor do selo Xeque Mate, ambienta a exposição com sons que vêm dos morros – entre tantos.
A mostra começa às 20h30, mas antes um debate promete incentivar novas atitudes. A criação de projetos coletivos e a temática da diversidade de expressão no mercado fotográfico serão assuntos para a mesa que vai contar com a presença da Ong Olhares do Morro, do Rio de Janeiro, representada pelo coordenador Vincent Rosemblatt e pelo jovem participante Daniel Martins Fernandes, morador da Rocinha, e ainda do fotógrafo mineiro João Castilho, participante e co-fundador do coletivo fotográfico “Diário dos Olhos”.
Museu Histórico Abílio Barreto
Av. Prudente de Morais, 202 (Cidade Jardim)
Tel.:(031) 296-3896 e 277-8575
Horário: 3ª a domingo de 10 às 17 h
Nos últimos três anos, o debate sobre a necessidade de definição de um campo especial de políticas públicas destinadas à juventude se intensificou no Brasil
Secretária adjunta Nacional de Juventude fala sobre o Conselho Nacional de Juventude, suas perspectivas de atuação, o andamento do Pró Jovem e a crise no governo Lula
Observatório Jovem 09.08.2005
Ibasenet - Perseguindo o objetivo de uma Política Nacional de Juventude, nos dias 2 e 3 de agosto, houve a posse e a primeira reunião do Conselho Nacional de Juventude, que contará com um terço de seus membros provenientes do poder público e dois terços da sociedade civil.
IbaseNet – Qual a composição do Conselho Nacional de Juventude?
Regina Novaes – O conselho é composto por 60 membros. Do lado do poder público, temos 16 ministérios com programas voltados para a juventude, como a própria Secretaria Geral, o Ministério do Trabalho e Emprego, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome etc. Também fazem parte do conselho, a convite do ministro Luiz Dulci, três entidades que não são exatamente poder público, mas representam instâncias de poder. A Frente Nacional de Prefeitos e a Confederação Nacional de Prefeitos indicaram dois representantes, um titular e um suplente. Tem relação com a idéia do pacto federativo. No âmbito estadual, foi convidado o Fórum dos Gestores Estaduais. Também foi convidada a Frente Parlamentar de Juventude, que representaria o Legislativo. Ao todo são 20 cadeiras para o poder público, ou seja, um terço das vagas dos conselhos.
IbaseNet – A mistura de diferentes ministérios e de diferentes âmbitos, federal, estadual e municipal, é uma estratégia de atuação coordenada, evitando desperdício de recursos e replicação de iniciativas?
Regina Novaes – Sim. O princípio básico é não deixar que as questões voltadas para a juventude fiquem umas de costas para as outras. Em cada lugar, existem ações voltadas para a juventude sem informações sobre o que está ocorrendo no ministério vizinho. Sem dúvida, a função é otimizar e construir um novo paradigma do que seria política pública para a juventude. Não pensar a juventude apenas como uma extensão da infância e da adolescência ou, ao contrário, que você tem que trazer a maturidade para a juventude. É pensar que momento específico é esse, o que é ser jovem no Brasil de hoje, com o desemprego e a violência atingindo todas as classes sociais.
IbaseNet – E como ficou a representação da sociedade civil?
Regina Novaes – Os outros dois terços são de representações da sociedade civil, entidades que atuam em defesa e promoção dos direitos da juventude. São muito diferenciadas. Levamos em conta cinco critérios: reconhecimento das organizações nacionais; iniciativas regionais ou de redes temáticas; pluralidade de organizações com acúmulo no campo da juventude; segmentos da juventude (negros, mulheres, rural, urbano etc); especialistas. O conselho procura ser plural.
No âmbito nacional, acreditamos que nenhuma organização de juventude tenha ficado de fora. No caso do hip hop, por exemplo, existiam duas vagas e cinco entidades, então elas se reuniram, debateram e apontaram os nomes dos conselheiros. Entre as entidades nacionais temos a UNE, a UBES, setores de juventude de centrais sindicais, Pastoral da Juventude, União dos Escoteiros do Brasil etc. Em um segundo momento, escolhemos redes e regionais, embora saibamos que falar em redes é algo um pouco difícil, pois existem aquelas mais estruturadas, outras nem tanto. Mesmo assim, fizemos questão de reconhecê-las, pois achamos uma forma de organização atual e importante.
Depois, começamos a buscar segmentos que representam desigualdades ou diferenças sociais. Foi uma tentativa de trazer todos os grupos discriminados: jovem indígena, deficiente, mulher, homossexual, quilombola etc. Outro critério foram ONGs ou fundações que, nos anos 1990 e começo de 2000, acumularam alguma experiência na área da juventude. Foi aí que entrou o Ibase. Em alguns casos, pedimos que fossem feitas composições: o Ibase, por exemplo, compõe com Criola. O Viva Rio com Rocinha 21 e o Sou da Paz com o projeto Casulo, da periferia de São Paulo. Ou seja, o titular é de uma organização e o suplente de outra. As vagas do conselho não são elásticas, mas podemos, de alguma forma, trazer a diversidade o máximo possível.
O último critério foi o de especialistas. Consideramos tanto a parte mais acadêmica, como pessoas com áreas de especialidade. O Marcelo Yuca, por exemplo, não é um especialista no sentido acadêmico, mas passou por uma trajetória de vida que o transformou em importante porta-voz nessa área.
IbaseNet – Foi levada em conta a diversidade regional na escolha das entidades e de conselheiros(as)?
Regina Novaes – Foi buscada a diversidade regional, mas nem sempre conseguimos. A Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar da região Sul, Fetraf, por exemplo, nasceu no Sul, mas considerou muito importante colocar alguém da Bahia como conselheiro, local que já estava representado. A gente delega e tem que aceitar o que vem. Mas tentamos, ao máximo, buscar a diversidade regional, embora sabendo que não poderíamos reinventar a história. Se há acúmulo em determinado lugar, não podemos passar a borracha. Mas uma coisa é importante ressaltar, embora as vagas do conselho não estejam bem distribuídas em termos regionais, todas elas estão representadas.
Uma maneira de corrigir os possíveis desequilíbrios são as câmaras temáticas: educação, trabalho, vida saudável, vida rural, violência, direitos humanos etc. O conselho irá se reunir apenas quatro vezes ao ano. Nos intervalos, a idéia é que as câmaras temáticas se organizem e produzam tanto um diagnóstico da questão sobre a qual estão trabalhando como recomendações para o estado e para a sociedade civil. O próprio conselho irá propor essas câmaras aos conselheiros. Esperamos que ampliem a participação. Que as pessoas que ficaram de fora do processo do conselho sejam recuperadas nas câmaras temáticas. Esse é um elemento muito importante de ampliação do conselho.
IbaseNet – O perfil de conselheiros(as) também é diversificado?
Regina Novaes – Bastante variado. Em termos de cor, temos certeza de que ficou bem variado, mas na semana que vem vamos pedir para as pessoas se autoclassificarem para podermos fazer as estatísticas. Em termos de homens e mulheres, está bem eqüitativo. Uma coisa bem importante é a questão da idade. Não consideramos a idade como um pré-requisito. Não podemos impor, mas acreditamos ser importante uma relação intergeracional dentro do conselho. É preciso mais do que os jovens para ajudar a pensar a relação intergeracional. Não posso dizer que ficou meio a meio, mas é quase isso em termos de pessoas com mais e com menos de 29 anos. Ou seja, tem uma participação forte dos jovens.
IbaseNet – A maior parte das vagas do conselho foram para a sociedade civil. Existe algum motivo especial?
Regina Novaes – Essa foi uma decisão nossa. A juventude é muito segmentada e variada. Se você quisesse pegar as experiências, era preciso que a sociedade civil tivesse mais lugares. Se tivéssemos feito um conselho paritário, não íamos conseguir a pluralidade, formas de participação tão variada. Tem algo importante também que seria legal ressaltar. Alguns conselhos tem na presidência alguém do governo, outros, como o Consea, alguém da sociedade civil. Fizemos um esquema bem interessante. Vamos alternar, um ano quem irá presidir será a sociedade civil, no outro, o governo. Neste primeiro ano, a presidência será do governo, que indicará o seu membro. A sociedade civil irá indicar alguém para a vice-presidência. Daqui a 20 dias, a sociedade civil estará inscrevendo as indicações para a vice-presidência. Em agosto do ano que vem, será o contrário. Há um decreto de lei que estabelece tudo isso, mas o regimento interno do conselho será construído pelo próprio conselho. Na próxima reunião, extraordinária, em setembro, deverão ser eleitos o regimento interno e o representante da sociedade civil para a vice-presidência.
IbaseNet – Qual será o trâmite entre a Secretaria Nacional de Juventude e o conselho?
Regina Novaes – A secretaria tem a obrigação de disseminar as questões que forem surgindo, mas a sociedade civil também. A secretaria tem a função de articular as políticas, de integrá-las, mas não tem poder maior que um ministério. Por isso, a repercussão das opiniões do conselho, que é um espaço de interlocução com a sociedade civil, pode ajudar a secretaria. É meio o contrário. Não é a secretaria que ajuda o conselho, mas o conselho que ajudará a secretaria.
IbaseNet – Qual a função do conselho?
Regina Novaes – A primeira coisa importante é a sua tarefa de priorizar as questões urgentes de juventude. Ele precisa emitir um parecer e recomendações para políticas públicas de juventude. A idéia é que em nossa reunião extraordinária, em setembro, já ocorra uma primeira reunião das câmaras temáticas [propostas em 3 de agosto, quando houve a primeira reunião do conselho]. O conselho não é deliberativo. Não vai dizer, por exemplo, o que o Ministério do Trabalho tem que fazer com relação ao primeiro emprego, é consultivo e propositivo. Mas acreditamos que quando as câmaras temáticas produzirem material de maneira séria, plural, com bastante dados e recomendações irão conquistar uma legitimidade que irá constranger quem não quiser levá-las em conta.
IbaseNet – O conselho irá influir no Programa Nacional de Inclusão de Jovens (Pró Jovem) – iniciativa que prevê a capacitação de jovens de 18 a 24 anos, fora do sistema escolar e do mercado de trabalho, com recebimento de bolsas e prestação de trabalhos comunitários?
Regina Novaes – Sem dúvida. O Pró Jovem é o único programa que a secretaria está executando. Os conselheiros vão entrar em contato com os seus objetivos, problemas, avanços etc. Assim, irão poder pensar em como melhorar o Pró Jovem. Queremos transformar o conselho em um lugar de validação de políticas públicas para a juventude e de acompanhamento, críticas, recomendações.
IbaseNet – Como está o encaminhamento do Pró Jovem?
Regina Novaes – Muito interessante. Já teve início em cinco capitais. Em 5 de agosto, terá início em mais 5. Até o final do ano, estará nas 27 capitais. Já têm muitos jovens inscritos. Já ouve inscrição e sorteio público em 10 capitais. Todas as vezes que a inscrição supera o número de vagas para determinado município é feito sorteio público em Brasília, para poder haver um critério universal. Essa foi a primeira vez que foi pensado um programa nacional para atingir 200 mil jovens do Brasil, até o final do ano, só nas capitais. É a primeira vez que um programa integra ação curricular, elevação de escolaridade, capacitação para o mundo do trabalho e ação cidadã.
IbaseNet – Qual a vantagem disso?
Regina Novaes – A gente gostaria muito que essa outra maneira de pensar a relação escola, trabalho e cidadania, que está no Pró Jovem, possa influenciar tanto o trabalho de educação de jovens e adultos como a escola regular. Que a forma de organização do currículo da escola regular seja repensada. A capacitação que oferecemos tem todo um material pensado para a juventude. As quatro unidades formativas do Pró Jovem são: o jovem e a cidade; o jovem e o trabalho; o jovem e os meios de comunicação; e o jovem e a cidadania. Todas as disciplinas são ministradas de acordo com esses eixos temáticos. Mas tudo isso aprendendo matemática, ciências naturais etc. O jovem vai aprender todas as questões curriculares fundamentais por meio desse livro.
IbaseNet – Esse aprendizado se dará na escola comum?
Regina Novaes – Isso depende da capital. Algumas conseguiram horário para fazer tudo dentro das escolas, da sua rede. Outras conseguiram uma parte nas escolas, outras nas igrejas, em clubes. É preciso ter salas de aula disponíveis nas periferias perto das casas dos jovens. É um curso à parte do currículo comum das escolas, pode até funcionar na escola, mas é à parte. São 12 meses, o jovem vai ganhar R$ 100 por mês. A gente sabe que é apenas uma forma de ele poder se segurar nesses 12 meses, mas sabemos que R$ 100 não segura. O que vai segurar realmente é a forma como está organizado o curso, a maneira de aprender.
IbaseNet – Até o final do ano vão conseguir atingir os 200 mil jovens?
Regina Novaes – Vamos. Está muito bem encaminhado para isso. Todos os prefeitos estão aderindo à parceria e percebendo a importância do Pró Jovem.
IbaseNet – E a secretaria está com recursos suficientes para o seu pleno funcionamento?
Regina Novaes – É uma secretaria sem muitos recursos. Agora, quem tem os recursos é o Pró Jovem, R$ 311 milhões. A gente tem que reconhecer que os recursos do Pró Jovem têm sido respeitados, não foram contingenciados. Houve um sinal político muito importante. A secretaria ainda é muito voltada para o Pró Jovem e para o conselho.
IbaseNet – De que forma a secretaria está vendo as denúncias que afetam o governo Lula?
Regina Novaes – Toda essa crise choca, preocupa, chega a decepcionar, mas acho que a nossa atitude na secretaria tem sido muito a de participar, estar atento, ser a favor de toda e qualquer investigação. Isso é algo muito importante para o país. A transparência é muito importante. Mas a posição da gente está sendo muito a de tocar o trabalho para a frente. Não deixar que essa situação toda contamine o nosso entusiasmo. Quando você vai para a base, para as cidades, e vê 2.400 com jovens, alguns com filhos, agarrando essa chance de participar do Pró Jovem, com a possibilidade de inclusão social, você coloca a crise entre parênteses e toca o trabalho. Essa tem sido a nossa postura. Não estamos dando uma de avestruz, estamos acompanhando o que está acontecendo, mas a nossa escolha é a de trabalhar tudo o que for possível, da melhor maneira possível.
Confira a lista de conselheiros(as).
Publicado no Ibasenet em 1/08/2005.
Contemplado com uma bolsa Cientistas do Nosso Estado, professor da UFF mostra que é possível fazer muito com os recursos recebidos
Observatório Jovem 03.06.2005
Boletim da Faperj - Contemplado com a bolsa Cientistas do Nosso Estado da FAPERJ, o professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF) Paulo Carrano vem demonstrando como o bom uso dos recursos pode gerar bons e múltiplos resultados. O trabalho de Carrano – Juventude e Poder Local na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, financiado pela FAPERJ e pelo CNPq – integra o estudo nacional Juventude, Escolarização e Poder Local, desenvolvido por uma rede de pesquisadores em nove regiões metropolitanas do Brasil , coordenada nacionalmente por Marilia Spósito, da USP, e Sergio Haddad, da PUC-SP.
Um dos resultados do trabalho de Carrano foi lançado em maio: o documentário de 71 minutos em DVD Jovens no Centro, dirigido por Marcelo Brito e exibido pela primeira vez no auditório da Faculdade de Educação da UFF, em Niterói. O filme é parte da pesquisa de Carrano, que credita à FAPERJ a viabilização do documentário.
“Com os recursos que recebemos mensalmente da FAPERJ, pudemos não só realizar a pesquisa como comprar uma câmera e pagar toda a produção do filme”, relatou o professor. A boa utilização dos recursos também possibilitou que o projeto organizasse cursos na área de cinema para a formação de bolsistas de iniciação científica. “Dessa forma, atendemos um princípio básico do fomento à pesquisa: formar e qualificar profissionais”, observou.
As filmagens para o documentário foram feitas entre outubro de 2004 e fevereiro de 2005 durante a fase qualitativa de estudo de caso. Foram colhidos depoimentos de jovens de um Centro da Juventude em Niterói que enfrentam as dificuldades de desenvolver atividades culturais num espaço público mantido com poucos recursos.
O Centro da Juventude foi um programa lançado pelo Governo Federal junto às prefeituras de todo o país. Em Niterói, foi instalado em 1999 no Centro Social Urbano de um bairro popular – a Ilha da Conceição. Em 2000, o Governo Federal deixou de repassar os recursos e o município assumiu a iniciativa.
Apesar das dificuldades, os jovens fazem do espaço um lugar de aprendizagem e convivência social. Em seus depoimentos falam de relacionamentos com o poder público, amigos, familiares, professores e também sobre dimensões do cotidiano escolar, familiar, religioso e de suas expectativas de futuro. Alguns dos jovens entrevistados levam o espectador a conhecer outros espaços significativos em suas vidas.
A pesquisa
A pesquisa sob coordenação de Paulo Carrano, no entanto, é mais abrangente. Em seu relatório preliminar, o pesquisador caracteriza a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, seus antecedentes históricos, sua dinâmica político-partidária, aspectos demográficos e territoriais, bem como dados sobre jovens de 15 a 24 anos de idade.
O educador também descreve e analisa dados produzidos durante o processo de investigação, realizado entre 2003 e 2004 por uma equipe de pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Educação da UFF. Os dados foram colhidos a partir de formulário estruturado e aplicado nacionalmente junto a gestores de políticas públicas e coordenadores de programas de juventude em nove regiões metropolitanas.
Na Região Metropolitana do Rio, a primeira fase da pesquisa percorreu os 20 municípios que a compõem. Foram identificados 125 programas, projetos ou eventos que tinham os jovens como foco principal. De acordo com Carrano, as metrópoles podem ser consideradas como centro da vida social, econômica, cultural e política da sociedade contemporânea. “Há uma verdadeira interdependência entre economia, política e ação social na constituição do tecido metropolitano”, explicou.
Paulo Carrano espera que a pesquisa contribua para evidenciar os desenhos, processos e conteúdos institucionais que permitam perceber o estado atual do relacionamento das políticas públicas com os jovens da região metropolitana do Rio. “Ainda que o foco da investigação não tenha recaído sobre a juventude em sua dimensão de identidade e ação social, os dados permitem perceber como o relacionamento entre os jovens e o espaço público influencia na dinâmica social urbana”, disse.
O pesquisador afirma que, a rigor, não existem políticas públicas de juventude na Região Metropolitana do Rio de Janeiro. Ele considera que as ações são desprovidas de dotações orçamentárias compatíveis com as demandas. “Constatamos que, no período da pesquisa, as equipes técnicas e agentes de implementação dos programas eram em número insuficiente. Em geral, também eram despreparados para as atividades. Dessa forma, as ações não seriam capazes de causar impactos regionais duradouros e de qualidade”, concluiu o pesquisador.
Publicado no Boletim da Faperj - 02.06.2005
Jovens da periferia de BH aderiram ao hip hop. Baseado no funk e no rap, o movimento ainda é ignorado por parte da sociedade, sustenta o sociólogo Juarez Dayrell, professor da Faculdade de Educação da UFMG que prepara o lançamento do livro O rap e o funk na socialização da juventude
Observatório Jovem 21.01.2005
Estado de Minas - Desde os anos 80, quando o rap e o movimento hip hop eclodiram nas vilas brasileiras, transitar pelas periferias implica ter acesso não apenas aos colapsos provocados pela desigualdade social, mas a uma conseqüência direta da crise: a efervescência cultural, que a classe média insiste em não qualificar como arte. A despeito dos critérios definidos por intelectuais alheios à realidade das favelas, no Brasil e no mundo, a cultura nos morros se multiplica, na forma de música, poesia, artes plásticas e dança, com estética particular, conteúdos ideológicos manifestos de diferentes maneiras e níveis de consciência também distintos. E assume um papel preponderante na formação de crianças, jovens e adolescentes, que encontram no fazer artístico o alimento para as lacunas deixadas por estado, família e escolas.
Esse nexo entre o rap e a educação, o sociólogo Juarez Dayrell descobriu quando se propôs a investigar o perfil dos jovens que freqüentam as escolas nas periferias da Região Metropolitana de Belo Horizonte. “Fiquei assustado com a maneira como as escolas desconhecem seus alunos. Quando comecei as pesquisas preliminares, fui me dando conta da existência de uma efervescência cultural enorme no entorno deles”, comenta. O resultado da investigação e as constatações do sociólogo deram forma à sua tese de doutorado, que a editora da Universidade Federal de Minas Gerais tem previsão de lançar até março, com o título O rap e o funk na socialização da juventude.
Professor da Faculdade de Educação da UFMG, Juarez Dayrell se debruçou em uma pesquisa etnográfica feita em 1996 nas escolas noturnas, e percebeu que não havia quem soubesse quem são os alunos, como vivem, a qual cultura pertencem, qual visão de mundo está traçada em suas personalidades. Enquanto se relacionava com os jovens, o pesquisador teve a oportunidade de observar os processos de criação e a maneira como eles eram desconsiderados pela sociedade.
Partindo da classificação de faixa etária clássica para a juventude, segundo os padrões da academia, o professor ouviu jovens entre 15 e 24 anos. Ao formatar sua pesquisa de doutorado, rastreou os ambientes fora da escola, para conhecer os espaços de agregação, encontro e socialização. A princípio trabalhando com o rap, o funk e o pagode, optou por segmentar ainda mais a pesquisa, restringindo as avaliações com relação aos dois primeiros, por acreditar que eles têm relação mais estreita com a juventude. “Na hora de escrever, depois da pesquisa empírica, percebi que o pagode tem a ver com várias faixas etárias. O rap e o funk geram uma identidade juvenil muito forte”, diz.
Voz da periferia
Ao contrário de outras tentativas de recuperação histórica do surgimento do rap e do movimento hip hop no País, que partem da descrição de trajetórias e comunidades, o trabalho de Juarez Dayrell não tem como fio condutor um caso específico. Ele conta que seu objetivo, desde o início da pesquisa, é dar voz ao jovem da periferia, apontar quem é esse sujeito e a dimensão que ele vem formando e constituindo no corpo social. “O rap entra como um motivador, um articulador importante. Não pretendo mostrar a história do gênero, mas do jovem que o faz”, explica o professor.
Dayrell conta que o primeiro levantamento foi feito com 148 grupos musicais, durante seis meses, sob os critérios da idade dos integrantes, tempo que atuam juntos, e a partir do conceito de classe social. A eles foi aplicado questionário, por telefone, até a seleção final de 18 (seis de cada modalidade – rap, funk e pagode). “A partir daí, colei nos que ficaram”, comenta o pesquisador usando gíria típica da periferia. Para os jovens, colar quer dizer acompanhar de perto, estar junto, ser aliado.
Essa é a riqueza do livro, na avaliação do autor, porque o trabalho retrata o dia-a-dia de quem esteve com os adolescentes, e permanece com eles, em vários momentos, como ensaios, shows e festas do hip hop. Apesar de óbvia, a conclusão de Juarez Dayrell pode provocar estranheza em quem discrimina os jovens da periferia e fazem deles um grupo excluído em todos os campos de convivência. “Insisto em dizer que esse jovem ama, sofre, ri, tem tristezas e é um sujeito dentro desse contexto concreto em que ele vive, com muitas limitações. E é um sujeito que sonha e tem projetos. Muita gente se esquece disso”, afirma.
Identidade em forma de poesia
Na periferia, a juventude é um período curto. Rapidamente os adolescentes são forçados a agir com amadurecimento, ter responsabilidade de adultos. Casam e constituem família de forma precoce, têm que encontrar meios de garantir a própria sobrevivência, além de colaborar com pais e irmãos. Por esses, e muitos outros motivos, o tempo de lazer e diversão se torna pequeno, aquém do necessário para a consolidação da personalidade, na avaliação do professor e sociólogo Juarez Dayrell, que acaba de concluir tese de doutorado sobre o tema, com o livro O rap e o funk na socialização da juventude.
Para realizar o trabalho, ele se aproximou dos jovens nas favelas da cidade que se relacionam com atividades culturais. Conheceu nova realidade, partilhou angústias, como ele mesmo descreve. E concluiu que o rap e o funk são grandes questões postas na contemporaneidade. “Esse é o espaço de vivência da condição juvenil desses meninos, o lugar de construção de identidade, de entendimento e elaboração da realidade a que estão submetidos”, avalia o pesquisador, que demarca seu trabalho a partir de uma visão de classe social.
Depois de conviver com o hip hop, defende que este não é um movimento homogêneo. Nele, estão um conjunto múltiplo de visões de mundo, que acabam se refletindo no tipo de música e arte que produzem. O fato torna ainda mais significativo o espaço de produção cultural que representa. “Ali eles transformam em poesia o que estão vivendo, com angústia, rebeldia, indignação. É também uma via de encontro, de identificação através das roupas, dos adereços. Para esses meninos, pouco considerados pela sociedade, o rap representa uma orientação de vida”, afirma. Para muitos jovens, lembra o professor, a música que produzem se constitui um caminho alternativo à criminalidade, e um espaço legítimo de afirmação da identidade negra.
"Demorou pra formar"
Embora em diferentes níveis, a consciência política é outro elemento determinante do rap. Como exemplo, o professor cita os rappers do NUC – Negros da Unidade Consciente, o SOS Periferia e o Arizona como alguns do que demonstram boa análise da força ideológica que representam.
A experiência com a juventude na periferia também levou o professor a compreender que a resistência dos artistas da favela com a intelectualidade burguesa decorre das muitas vivências oportunistas, que os jovens denunciam através de suas ações. “O problema é que muitos chegam às favelas agindo como quem se apropria. Levam o que interessa e somem. Essa é uma atitude pouco ética”, declara. E revela que ganhou a confiança dos meninos como uma conseqüência da postura metodológica que adotou. “Depois das entrevistas, entreguei a eles o material produzido e os convidei para ler os textos antes de serem encaminhados para a editora. Nos comportamos como parceiros”, lembra. Na linguagem dos rappers, “demorou pra formar”. Ou seja, satisfação para todos os envolvidos no processo.
Para o professor Juarez Dayrell, o rap e o funk guardam muitas revelações sobre a desigualdade social. A música e a poesia relatam, descrevem, denunciam e se apresentam como uma orientação fundamental na vida de centenas de jovens da periferia da Região Metropolitana de Belo Horizonte. “Quando se questiona o funk, a crítica está dirigida ao lugar social de onde vem quem o produz. Antes de mais nada, estamos falando de uma juventude que quer, através da arte, afirmar seu direito a ser jovem”, afirma.
O sociólogo admite que as universidades, de uma maneira geral, têm um olhar conservador para o tema. O viés da educação e o esforço de vários pesquisadores, entretanto, têm permitido uma revisão de posturas. “Recebo críticas de que esses grupos não são reconhecidos como produtores culturais, mas através dessas pesquisas estamos forçando uma abertura da universidade para a periferia. Hoje, há um pouco mais de esforço para se conhecer essas expressões culturais que estão postas”, avalia o professor.
Publicado no Jornal Estado de Minas. Capa. Belo Horizonte, 9 de janeiro de 2005.