Nicolas Sarkozy prometeu investir mais de um bilhão de euros no combate ao desemprego que aflige os jovens franceses, uma medida para conter o descontentamento que surge em meio à pior recessão desde a Segunda Guerra Mundial
25/04/2009
Esther Bintliff
Em Paris (França)
O pacote de 1,3 bilhão de euros (US$ 3,7 bilhão) inclui vantagens fiscais e outros incentivos para as companhias que oferecerem estágios para jovens com menos de 25 anos, bem como apoio para programas de treinamento. Haverá também uma legislação para impedir que as companhias ofereçam longos estágios não remunerados para os jovens que procuram emprego.
Em um momento em que a popularidade de Sarkozy despenca e ele enfrenta críticas devido à sua política econômica, o presidente está ansioso por neutralizar os movimentos de protesto da juventude. Os estudantes são a centelha que desencadeia convulsões sociais mais generalizadas na França desde que eles desempenharam um papel de liderança nas greves de 1968, que precipitaram a queda do herói de Sarkozy, Charles de Gaulle.
O momento em que foi a notícia foi divulgada, uma semana antes da terceira greve nacional francesa neste ano, reflete o medo do governo de que as manifestações tornem-se violentas.
Ao anunciar as medidas em um centro de treinamento em Val d'Oise, no norte da França, Sarkozy disse que o governo pretende ajudar 500 mil jovens a encontrar empregos e estágios de treinamento até junho de 2010, mesmo que o crescimento nacional continue caindo. "Estamos apostando nos estágios", disse Sarkozy. "Não há nenhum motivo para que a França não crie de forma maciça estágios profissionais, que são um sistema de sucesso".
O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que, em 2009, o produto interno bruto da França encolherá 3%, e a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) acredita que o desemprego no país saltará neste ano dos atuais 8,2% para 10%.
Sarkozy observou que o desemprego entre os jovens na França é, comparativamente, pior do que aquele que atinge outras economias desenvolvidas, e que isso vem ocorrendo "há décadas". "Um pouco menos do que um em cada dois jovens está empregado na França", diz ele. "Em outros países, essa proporção é de dois para três. Isso é um problema. Um problema estrutural".
De acordo com a Insee, a agência nacional de estatísticas do país, 20,4% dos jovens franceses de 15 a 24 anos estavam desempregados ao final de 2008, comparados aos 16,5% no Reino Unido e aos 10,3% na Alemanha.
Mas, no passado, as tentativas de revitalizar o mercado de trabalho para os jovens revelaram-se uma tarefa difícil. Em 2006, Dominique de Villepin, então primeiro-ministro, tentou instituir uma reforma que permitisse às companhias despedir mais facilmente funcionários com menos de 26 anos de idade. A proposta foi recebida com protestos que obrigaram o governo a recuar, e acabaram destruindo a reputação de Villepi.
Sabendo desse precedente, Sarkozy insistiu que as novas medidas não prejudicarão os direitos dos jovens trabalhadores. "A legislação empregatícia tem que ser a mesma, não importa a idade com a qual o indivíduo desempenhe um trabalho", disse o presidente francês. "Sempre me opus aos contratos que preveem menos direitos sociais simplesmente porque o trabalhador tem menos de 26 anos".