por Solange Rodrigues*
Como jovens de hoje se relacionam com a religião? A juventude está de fato mais afastada das religiões na atualidade? Que processos conduzem à adesão ou à desfiliação religiosa dos jovens? As diversas opções presentes no universo religioso brasileiro atraem a juventude? Que estratégias as instituições religiosas acionam para atrair e congregar os jovens? Quais são as crenças e práticas religiosas da juventude contemporânea? Quais as conseqüências sociais e políticas de sua experiência mística? É possível combinar liberdade de pensamento e de expressão, questionamento, atitudes que costumam ser associadas à juventude, com o rigor exigido pelas religiões e com suas certezas absolutas? Como os jovens deste início de século assumem e reelaboram significados, rituais e princípios oferecidos pelos diferentes sistemas religiosos?
Cada uma dessas questões mereceria uma discussão profunda e poderia ser objeto de um artigo específico. Aqui aponto alguns aspectos gerais dessa problemática sociológica. Nunca é demais lembrar que Marx, Weber e Durkheim, considerados como fundadores de nossa disciplina, de algum modo analisaram as relações recíprocas entre religião e sociedade. Mas voltemos às nossas perguntas iniciais. Elas não admitem respostas apressadas e absolutas, tanto pela diversidade que atravessa a juventude brasileira atual, quanto pela dinâmica que vem imprimindo profundas transformações no campo religioso em nosso país nas últimas décadas.
Já se tornou corrente o uso do termo “juventudes,” no plural, para reconhecer diferenças e desigualdades que marcam a experiência social dos jovens, com relação a gênero, cor de pele/etnia, classe social, orientação sexual, escolaridade, local de moradia (campo/ cidade, centro/periferia), situação familiar, inserção no mundo do trabalho, diferenças de gostos e estilos, adesão a grupos culturais, políticos. Também com relação à religião os jovens se diferenciam.
Por outro lado, ao longo de século XX o catolicismo perdeu o monopólio religioso em nosso país: se 99% da população se declarava católica em 1890, no censo de 2000 este índice caiu para de 73,6%. Mais do que uma simples redução quantitativa, o que chama a atenção é o pluralismo que se estabeleceu: um número expressivo de Igrejas Evangélicas, tanto as herdeiras da Reforma Protestante, quanto as Pentecostais, criadas mais recentemente; Religiões Mediúnicas, como o Espiritismo Kardecista e as Religiões Afro-brasileiras; Religiões Orientais; novas religiões (como o Santo Daime) ou antigas, como o Islã, além de diferentes espiritualidades que não conformam instituições religiosas, referidas ao universo do que se costuma denominar de Nova Era. E é preciso lembrar, ainda, das diferentes maneiras como os adeptos se relacionam com uma determinada religião e a presença de distintas correntes espirituais numa mesma tradição religiosa.
Portanto, estamos diante de dois campos bastante complexos, diferenciados internamente, juventude e religião, que estabelecem entre si as mais diversas formas de relacionamento.
Frente a tanta diversidade, as análises sobre esse tema em geral se restringem a um determinado segmento da juventude (como jovens estudantes de uma determinada universidade ou de uma região da cidade) ou a uma religião específica (jovens do candomblé ou de uma denominação pentecostal). Esses estudos bem delimitados têm o mérito de considerar as especificidades dos sistemas religiosos e de não abordar a juventude como uma categoria social homogênea. Por outro lado, eles não permitem generalizações sobre juventude e religião, muito embora levantem questões que podem ser investigadas em outros universos e que têm influenciado pesquisas mais amplas sobre juventude em nosso país.
Alguns números: uma juventude sem religião? (1)
Numa primeira aproximação quantitativa, os dados do último recenseamento geral da população mostram que os jovens se distribuem pelas religiões de modo semelhante ao conjunto da população:
Religião Declarada |
População brasileira |
Jovens - 15 a 24 anos |
Católica |
73,6% |
73,6% |
Evangélica |
15,4% |
14,2% |
Espírita |
1,3% |
1,1% |
Umbanda e Candomblé |
0,3% |
0,3% |
Outras religiosidades |
1,8% |
1,7% |
Sem declaração |
0,2% |
- |
Sem religião |
7,3% |
9,1% |
Fonte: Censo Demográfico 2000 (FIBGE)
Podemos verificar que não há diferença na adesão ao catolicismo, que permanece como religião majoritária, e que a proporção de jovens que declaram pertencer às igrejas evangélicas é um pouco menor que no conjunto de brasileiros de todas as idades. Nas demais alternativas religiosas também não há diferenças a ressaltar. O que merece destaque é que entre os jovens há uma maior proporção de pessoas que se declaram sem religião (9,1%): o índice é 25% maior do que o de indivíduos sem religião no conjunto da população brasileira.
No entanto isso não significa um crescimento mais acentuado do ateísmo entre os jovens. Algumas pesquisas recentes, utilizando abordagens qualitativas e quantitativas, têm captado que a grande maioria desses jovens sem religião tem crenças, busca uma proximidade com o sagrado, experimenta uma mística, muito embora não se sinta identificada com uma religião em particular.
Uma dessas investigações foi feita com uma amostra representativa de 800 jovens, no município do Rio de Janeiro. Neste trabalho, realizado pelas antropólogas Regina Novaes e Cecília Mello entre os anos de 2000 e 2001 (ver box com sugestões para leitura), foram feitas constatações significativas.
Antes é preciso lembrar que a população do estado do Rio de Janeiro guarda algumas particularidades no que diz respeito à religião, quando comparada com a do restante da federação: tem o menor percentual de católicos, é o quarto maior em proporção de evangélicos (atrás de Rondônia, Roraima e Espírito Santo) e tem o maior índice de pessoas que se declaram sem religião.
Religião |
Brasil
(Censo 2000) |
Estado do Rio de Janeiro
(Censo 2000) |
Jovens da cidade do Rio de Janeiro |
Católica |
73,6% |
57,1% |
51,9% |
Evangélica |
15,4% |
21,1% |
18,6% |
Sem religião |
7,3% |
15,5% |
20,0% |
Fontes: FIBGE (2000) e Jovens do Rio: circuitos, crenças e acessos (2002)
A primeira constatação é que entre os jovens da capital fluminense se intensificam algumas tendências registradas no país e no estado: há uma maior redução no percentual de católicos (51,9%) e um maior índice de jovens evangélicos (18,6%) e sem religião (20,0%).
Informadas por estudos anteriores, as pesquisadoras incluíram uma pergunta destinada apenas aos jovens que declaravam não ter religião. Vejamos como ficaram as respostas:
Jovens sem religião |
20% |
tem suas crenças, mas não tem religião |
15,9% |
não acredita nem deixa de acreditar em deus (agnóstico) |
1,5% |
não acredita em deus (ateu) |
0,8% |
Indeciso |
1,8% |
Fonte: Jovens do Rio: circuitos, crenças e acessos (2002)
Dentre os jovens sem religião, muito poucos se apresentam como ateus ou agnósticos. O maior contingente é daqueles que têm sido chamados de “religiosos sem religião”. E quais são as crenças desses jovens? Uma outra questão oferecia aos entrevistados uma listagem com 15 opções, e admitia múltiplas respostas. As crenças dos jovens sem religião são muito semelhantes à dos demais jovens. Alguns exemplos:
Acredita em |
Jovens entrevistados |
Jovens sem religião |
Deus |
98,5% |
98,2% |
Jesus Cristo |
97,7% |
96,9% |
Espírito Santo |
91,2% |
88,3% |
Ensinamentos da Bíblia |
88,7% |
80,4% |
Reencarnação |
48,7% |
44,8% |
Demônios |
45,8% |
48,5% |
Energia |
47,1% |
44,8% |
Astrologia |
39,8% |
36,8% |
Orixás |
33,6% |
35,6% |
Fonte: Jovens do Rio: circuitos, crenças e acessos (2002)
São crenças disseminadas no imaginário religioso brasileiro, que tem forte influência do cristianismo (veja-se as três indicações mais citadas), especialmente em sua vertente católica (a Virgem Maria e os Santos também foram crenças muito assinaladas). Mas onde há um lugar de destaque para a Bíblia. Um imaginário que tem elementos compartilhados por diferentes religiões (como a Bíblia, Anjos e Demônios), que combina crenças de sistemas religiosos diferentes. Onde algumas crenças oriundas de religiões minoritárias como a Reencarnação e os Orixás, ultrapassam os limites dos adeptos, e são assumidas por parcelas significativas de jovens.
O cruzamento dessas informações com as religiões declaradas pelos jovens revelou combinações surpreendentes: 70,6% dos jovens católicos crêem na reencarnação, metade em astrologia; 20% dos jovens protestantes crêem na Virgem Maria.
Uma outra pesquisa sobre Juventude Brasileira e Democracia(1), realizada em 2004 com 8 mil jovens, em 8 regiões metropolitanas brasileiras, chegou a resultados semelhantes no que diz respeito ao perfil religioso: 54,9% se identificaram como católicos; 21,4% como evangélicos; 2,8% como espíritas e outras opções (religiões orientais, afro-brasileiras, judaica) tiveram percentuais menores que 1%. Apenas 2% dos jovens declararam que não acreditam em deus, e 14,3% disseram que crêem em deus, mas não têm religião. Nesta pesquisa chamou atenção o fato de que 28,5% dos jovens participavam de grupos, espaços privilegiados de sociabilidade juvenil. E em torno do quê se reúnem esses grupos? Atividades religiosas (42,5%), esportivas (32,5%) e artísticas - música, dança e teatro (26,9%) foram as mais citadas.(2)
Uma terceira pesquisa sobre a religiosidade dos universitários da PUC de São Paulo realizada no ano de 2000(3) reforça as indicações trazidas até aqui: 68 afirmações foram submetidas a 1032 estudantes, que deveriam classificar cada uma elas numa escala de 1 a 8, de acordo com o grau de concordância.
A afirmação “A fé é mais importante que as crenças e religiões” ocupa a terceira colocação, com uma média de 6,44. Em nono lugar ficou “A verdade está acima das religiões”, com a média de 5,80. Em sentido inverso, em penúltimo lugar ficou “Exerço minha espiritualidade exclusivamente com o grupo da minha igreja” (67ª. Posição -média de 1,92).
Assim, para esses jovens universitários a experiência da fé ultrapassa os limites da instituição religiosa, as religiões não detém o monopólio da verdade.
Experimentação, Filiação e Desfiliação Religiosa
Estamos diante de fenômenos que têm sido analisados pelos estudiosos da religião. Um deles é a chamada desistitucionalização religiosa. Cada vez mais pessoas deixam de encontrar nas grandes religiões tradicionais narrativas plausíveis que respondam à suas necessidades de sentido, e passam a ter uma experiência do sagrado sem a mediação de instituições religiosas. Assim, essas instituições perdem gradativamente a capacidade de atrair e vincular adeptos.
Mas esse processo não é percebido através das opções usualmente apresentadas nos instrumentos de coleta de dados de pesquisas demográficas. Além disso, essas abordagens quantitativas exigem definições precisas e captam um determinado momento da trajetória do indivíduo, não permitindo observar situações presentes na experiência social dos jovens, como o trânsito religioso - a peregrinação entre diferentes alternativas religiosas existentes, em busca daquela que preencha as necessidades espirituais; as adesões provisórias, a prática simultânea de mais de uma religião, a produção de sínteses pessoais, sincréticas, a partir de elementos disponíveis em diferentes sistemas de crenças. E há também aqueles que mesmo optando por uma determinada religião, estabelecem negociações próprias com o conjunto de concepções e práticas requeridas dos adeptos, ou seja, não adotam o sistema completo de olhos fechados.
Para analisar o tema da religião na juventude, um caminho metodológico proveitoso é abordagem das práticas e das crenças, e não tanto a consideração da declaração de adesão formal a determinados corpos doutrinais.
A busca de respostas para suas dúvidas e angústias existenciais, a abertura ao novo, a extrema curiosidade, a liberdade frente exigências incompreensíveis, a crítica aguçada quando percebem nos líderes religiosos atitudes consideradas inadequadas, tudo isso pode explicar uma adesão mais fluida, os vínculos tênues que uma parcela da juventude mantém com as instituições religiosas. É freqüente encontrarmos jovens que num curto período passaram por diversas experiências religiosas e que se definem como “buscadores” do sagrado. Neste sentido têm a atenção despertada para religiões de matriz oriental, que aumentaram sua presença no país nas últimas décadas, as espiritualidades exóticas e esotéricas, muitas vezes associadas à dimensão do autoconhecimento e terapêuticas.
Isso não deve ser confundido com uma atitude de descompromisso dos jovens em relação à religião. Cada vez mais se pode observar a adesão de jovens a sistemas ou movimentos religiosos que exigem uma rígida observância de regras comportamentais, alguns inclusive escolhem viver radicalmente os princípios da fé em comunidades constituídas em torno de uma identidade religiosa, como no Santo Daime, no Hare Krishna, na Toca de Assis.
Simultaneamente, é possível perceber uma tendência a inscrever no corpo sinais de uma identidade religiosa, seja pela adoção pública de vestes especiais, ou de camisetas contendo mensagens religiosas, ou de acessórios simbólicos (cordões, anéis, broches), ou mesmo de tatuagens. Não se trata de uma religião vivida no âmbito privado, deseja-se que tenha visibilidade pública.
Uma outra faceta desse anúncio identitário está relacionada uma tendência observada nas grandes religiões universais, de adoção de atitudes fundamentalistas, de formação de grupos que procuram reforçar as tradições e identidades. Tanto o catolicismo, como as denominações protestantes, o judaísmo, o islamismo etc. possuem em seu interior grupos reacionários que contam com a participação de jovens.
Esses processos são vivenciados por pessoas de todas as idades, não apenas pelos jovens. Entretanto, estamos tratando de uma fase da vida em que se intensifica uma experimentação que vai dar origem a escolhas existenciais importantes: a vivência da sexualidade, a busca de parceiros, a orientação sexual, a continuidade ou não dos estudos, a inserção profissional, os círculos de amizade, as adesões ideológicas, políticas, a adoção de determinados valores. A religião também é um campo de experimentação e de escolha para os jovens, mesmo que em todas estas áreas da vida as decisões não sejam definitivas e irreversíveis.
Assim, durante a juventude podem acontecer processos como a desvinculação da tradição religiosa em que o jovem foi socializado, rompendo com a religião dos pais, a conversão a um outro sistema religioso, ou mesmo a re-adesão à religião de origem, não mais por herança familiar, mas por decisão própria, passando pelo crivo do individuo. Isso mostra mudanças no processo de transmissão da religião de uma geração a outra. Cada vez mais encontramos indivíduos com identidades religiosas diferentes numa mesma família. E também cresce o número de relatos de jovens socializados em lares agnósticos que têm buscado uma vivência religiosa. Aqui é importante assinalar a influência do círculo de amigos, onde os jovens encontram mediadores na aproximação dessas novas alternativas religiosas.
Pertencimento religioso e vida social
Já me referi anteriormente a pesquisas que assinalam como as religiões oferecem mais um espaço de sociabilidade para os jovens, além da família, da escola, da vizinhança, dos locais de trabalho. Igrejas, templos, salões, terreiros, centros espíritas, sinagogas, mesquitas são lugares de culto, de contato com o sagrado, de estudo sobre a cosmologia de uma determinada religião. Mas também oferecem oportunidade para conhecer outras pessoas, fazer amigos, descobrir parceiros para relacionamentos afetivos. Algumas vezes essas motivações são tão ou mais importantes para que jovens se aproximem de uma experiência religiosa.
A propósito da religião muitos jovens têm acesso a oportunidades de lazer: fazem passeios, acampamentos, viagens, assistem (e também participam) de espetáculos religiosos de música, dança, teatro. Outra dimensão dessa experiência juvenil é a possibilidade de circular pela cidade, para participar de rituais, espetáculos, estudos; visitar outros grupos. E isso em uma época marcada pela violência e por preocupações com segurança, que restringem o deslocamento nas metrópoles.
Outro elemento a destacar é que uma parcela significativa de jovens possui tempo disponível para dedicar a atividades religiosas, seja pelas dificuldades de ingressar no mercado de trabalho, em tempos de desemprego estrutural, seja porque ainda não possuem filhos e as responsabilidades associadas a esta situação.
A participação num grupo religioso muitas vezes permite o ingresso em redes de solidariedade que dão suporte emocional e material em situações de dificuldade. Por tudo isso, a religião pode ser um meio de os jovens ampliarem sua rede de sociabilidade e seu universo de conhecimento. No entanto, pode acontecer o inverso, quando os jovens ingressam em grupos religiosos que tendem a fechar-se em si mesmos, ocupando todo o tempo livre dos adeptos, reduzindo as oportunidades de outros convívios sociais.
É preciso reconhecer que os espaços constituídos em torno de uma identidade religiosa também são lugares de assimetria, de disputa, de lutas pelo poder e prestígio. E a percepção dessa dinâmica, típica de qualquer organização social, algumas vezes conduz a uma decepção do jovem e ao seu afastamento do grupo religioso.
A vivência religiosa tem outras repercussões para os jovens. Nas escolas e universidades alguns jovens chamam a atenção por sua facilidade para falar em público, sustentar argumentações nos debates. Características comuns em jovens que tiveram uma socialização em grupos políticos, em mobilizações sociais. A novidade é perceber que muitas vezes essas capacidades foram adquiridas numa trajetória religiosa.
A experiência religiosa tem outros impactos na vida social dos jovens, na adoção de determinados valores e práticas como, por exemplo, a valorização da caridade, da política, da ecologia.
Por outro lado, um fenômeno que tem sido observado nas escolas de ensino fundamental e médio é o aumento do número de jovens que adotam uma concepção criacionista, tendo a narrativa bíblica como critério de verdade para explicar a criação do universo e da humanidade. Cosmovisão que entra em choque com as explicações científicas e têm causado conflitos e embaraços para educadores que respeitam a escolha religiosa de seus alunos precisam fazer seu trabalho e apresentar outras perspectivas.
Em geral as instituições religiosas acionam estratégias para atrair os jovens, pois dependem da renovação de seus quadros para continuar existindo. Entre essas estratégias está a atualização de suas mensagens, com a utilização de uma linguagem contemporânea, a flexibilização de exigências no campo do comportamento, a promoção de grandes concentrações, shows, música, a incorporação de estilos musicais associados às culturas juvenis, como o Rock, o Hip Hop. Há inclusive toda uma produção cultural gospel voltada para a juventude ou mesmo produzida pelos jovens.
Muitas vezes são os próprios jovens que assumem o proselitismo religioso voltado para seus pares. Não obstante essa modernização, os especialistas têm apontado que nem sempre a renovação da forma se estende às concepções religiosas. Desse modo, algumas tradições religiosas continuam afirmando idéias produzidas em outros contextos histórico-culturais e exigindo dos jovens condutas compatíveis com esses ensinamentos. Um caso exemplar encontra-se nos discursos sobre moral sexual e práticas reprodutivas, proferidos pelo líder mundial do catolicismo durante sua recente visita ao Brasil.
Aqui cabe assinalar que na vida cotidiana pode existir um hiato entre as doutrinas oficiais e as práticas efetivas dos fiéis, e isso é comum no campo da sexualidade.
Para concluir: espero ter mostrado que os jovens têm recriado continuamente suas formas de relacionamento com a religião, e têm feito uma experiência profunda do sagrado, dentro ou fora de instituições religiosas. Experiência que permite a construção de identidades coletivas e tem repercussões significativas em suas vidas.
Sugestões de leitura:
Caso tenha interesse em aprofundar esse tema, pode começar por Imagem do eterno: religiões no Brasil (Editora Moderna), de Carmen Cinira Macedo. Os três primeiros capítulos desse pequeno livro, escrito há cerca de duas décadas, são uma excelente introdução à abordagem das Ciências Sociais sobre os fenômenos religiosos. A seguir a autora apresenta brevemente as tradições religiosas mais presentes no campo religioso brasileiro.
Para atualizar a análise desse campo, sugiro a leitura de As Religiões no Brasil: continuidades e rupturas, organizado por Faustino Teixeira e Renata Menezes (Editora Vozes, 2006). Fruto de um seminário que reuniu diversos especialistas no estudo das religiões, o livro traz análises sobre os resultados do último Censo Demográfico; as transformações que têm ocorrido no universo religioso dos brasileiros, processos como trânsito religioso e sincretismo; e diversas expressões religiosas presentes ro Brasil atual.
Regina Novaes é uma pesquisadora que tem abordado diretamente as interfaces entre juventude e religião. Há artigos de sua autoria nas revistas Comunicações do ISER 45 (1994) e Religião & Sociedade 20/1 (1999), e nos livros Fiéis & Cidadãos: percursos de sincretismo no Brasil (EdUERJ, 2001) e em Região e Espaço Público (Attar Editorial, 2003).
Recomendo especialmente duas outras obras da mesma autora: o número especial da revista Comunicações do ISER 57 (2002), cujo título é Jovens do Rio: circuitos, crenças e acessos. Escrito em parceria com Cecília Campello Mello, a revista apresenta os resultados de uma pesquisa quantitativa com 800 jovens do município do Rio de Janeiro. E o artigo Juventude, percepções e comportamentos: a religião faz diferença?, publicado na coletânea Retratos da Juventude Brasileira (Editora fundação Perseu Abramo (2005).
Por fim, o PPCIR (Programa de Pós-Graduação em Ciência da Religião) da Universidade Federal de Juiz de Fora dedicou todo o número 7 da revista Numen (2004) a artigos sobre juventude religião (informações em www.ppcir.ufjf.br).
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*Solange Rodrigues é Socióloga, pesquisadora da ONG Iser Assessoria (www.iserassessoria.org.br), onde trabalha com questões relacionadas à religião, juventude e cidadania.
(1) Juventude Brasileira e Democracia: participação, esferas e políticas públicas. Rio de Janeiro: Ibase/Polis, 2005.
(2) Os grupos podem realizar mais de um tipo de atividades, por isso os percentuais excedem 100%,
(3) RIBEIRO, Jorge Cláudio. Os universitários e a transcendência - visão geral, visão local. REVER N,2 - Ano 4 - 2004 (revista eletrônica: http://www.pucsp.br/rever/rv2_2004/t_ribeiro.htm)